Aeronaves enviadas para a Madeira causam embaraço político

Observatório da Comunicação Social
Texto: Marta Caires
Fotos: Gregório Cunha
Foto Gregório Cunha

Aeronaves enviadas
para a Madeira causam
embaraço político.

Tensão volta a subir nas relações Madeira-Lisboa e desta vez por causa dos testes aos meios aéreos no combate aos incêndios. Helicópteros enviados pelo Governo da República já estão no Aeroporto Cristiano Ronaldo e os primeiros ensaios estão marcados, mas o Governo Regional não foi informado. Quem fez o anúncio foi o líder do PS-Madeira, facto que o executivo madeirense considera uma deselegância

A chegada dos dois helicópteros para os testes ao uso dos meios aéreos no combate aos incêndios florestais e urbanos na Madeira apanhou de surpresa o Governo Regional. Os primeiros ensaios estão previstos para 2 de maio, mas Lisboa não informou Miguel Albuquerque ou a secretária regional que tem a tutela da Proteção Civil regional. O episódio é mais um numa relação cada vez mais tensa e onde as questões partidárias se disfarçam cada vez menos. Os testes foram anunciados pelo líder do PS-Madeira, o que surpreendeu ainda mais o executivo madeirense. Até porque quem solicitou o estudo à utilização de meios aéreos foi Albuquerque num ofício dirigido ao primeiro-ministro, António Costa.

O pedido de um estudo para esclarecer de vez se é ou não possível usar aviões e helicópteros nos incêndios florestais e urbanos na Madeira foi feito por Miguel Albuquerque a 10 de agosto de 2016, ainda no rescaldo dos fogos que mataram três pessoas e destruíram dezenas de casas no Funchal. O presidente madeirense entendeu que só o Governo da República teria meios para fazer um estudo isento a um assunto pouco consensual. A solicitação dirigida a António Costa pedia ainda que esse estudo fosse feito num prazo de 120 dias. O que não aconteceu, já que o primeiro contacto oficial entre governos ocorreu no fim de fevereiro deste ano.
Foto Gregório Cunha


Em fevereiro, num email dirigido a Rubina Leal, secretária regional da Inclusão, o secretário de Estado da Administração Interna informava a responsável pela Proteção Civil regional que o caso tinha sido delegado na Autoridade Nacional da Proteção Civil. “Foi a única informação oficial que recebi até ao momento”, garante a secretária, que, no entanto, espera ainda por informações oficiais que expliquem a presença dos dois helicópteros no Aeroporto Cristiano Ronaldo e confirmem o anúncio de que os primeiros testes terão lugar a 2 de maio. “Neste momento, o que sabemos é o que foi anunciado pelo líder do PS nos jornais, oficialmente não recebemos nada” - nem Rubina Leal nem Miguel Albuquerque. Na sede da presidência do Governo Regional, este caso é entendido como uma deselegância.

Ainda assim, o gabinete de Albuquerque admite que possa chegar uma comunicação oficial, das que chegam mesmo em cima da hora, e, segundo adiantou ao Expresso fonte da Quinta Vigia, é já o estilo do atual Governo da República. Se o Governo é avisado em cima do acontecimento, já o PS-Madeira não se pode queixar de falta de apoio de Lisboa. Coube a Carlos Pereira, líder dos socialistas madeirenses, fazer o anúncio aos testes aos meios aéreos, o que coincide com a reunião da direção do grupo parlamentar do PS na Assembleia da República. Além de Carlos César, o líder parlamentar, estará também na Madeira o secretário de Estado da Administração Interna.
Foto Gregóro Cunha


Na página pessoal do Facebook, Carlos Pereira, presidente do PS-Madeira, anunciou que, com ele, as promessas são para cumprir, a começar por esta do uso dos meios aéreos no combate aos incêndios. O líder dos socialistas terá ainda pedido autorização para fazer uma visita ao Hospital Central do Funchal, onde se deverá fazer acompanhar pela direção nacional do grupo parlamentar. A construção do novo hospital e as dificuldades na saúde – com constantes faltas de medicamentos – são uma das fragilidades do Governo de Miguel Albuquerque e o presidente dos socialistas não quer deixar que isso passe em claro durante a reunião de 1 a 3 de maio da direção do grupo parlamentar na Assembleia da República.