Francisco Oliveira comenta ligações aéreas com o P. Santo

Observatório da Comunicação Social
Facebook: Francisco Oliveira
Fonte: o próprio/ RTP-M "Grande Informação"

Foto de Francisco Oliveira.Alertado por amigos sobre a minha participação no programa “Grande Informação” da RTP-Madeira, do passado dia 27, sobre as ligações aéreas entre a Madeira e o Porto Santo, e confrontado com eventuais contradições entre o que sempre tenho defendido e o que afirmei nesse programa, não posso deixar de concordar que, face aos curtíssimos excertos passados com as minhas palavras, há motivos para terem ficado intrigados.
Como explicar, então, a aparente contradição?

Muito fácil: dos 20 minutos de conversa com a RTP-M em que fiz uma análise exaustiva dos principais problemas daquela linha, apenas passou o primeiro minuto e, ainda por cima, fragmentado; aquele em que comecei por fazer um louvor aos funcionários por terem contribuído para a melhoria do serviço. Do resto (o mais importante), apenas a introdução, que passa no final do programa e que, por isso, parece que já não foi vista por todos.

Transcrevo aqui essa minha introdução e, de seguida, apontarei alguns dos problemas que enumerei à equipa de reportagem da RTP-M: “Os problemas que se põem têm a ver com o contrato de concessão, aqui é que estão os grandes problemas, mas são problemas completamente alheios aos profissionais que trabalham nesta linha […]”. Problemas:

Foto de Francisco Oliveira.


• Preços das viagens: é incompreensível que a Aerovip cobre, nas tarifas basic, num bilhete de ida e volta, 26,50 € entre Bragança e Vila Real (cerca de 100 km), 53 € entre Bragança e Viseu, (cerca 200 Km), como se pode ver em https://bookings.aerovip.pt/TARIFAS-LI…/tarifa-BGC-JAN16-new, e que cobre 39 € (sem taxas aeroportuárias) entre o Porto Santo e a Madeira, percurso de 50 km.

• Desproporção do custo de um bilhete de ida e volta para o continente (86 €), depois de recebido o subsídio de mobilidade, e o bilhete básico de residente do Porto Santo para o Funchal (71,92+taxas de emissão); no caso dos estudantes, para o continente, fica em 65 € e do Porto Santo para a Madeira, fica em 61,92+taxas de emissão). Entre o continente e a Madeira são cerca de 800 Km, entre o Porto Santo e a Madeira são 50 Km. Palavras para quê? Ninguém com responsabilidade vê isto?

• Subsídio de mobilidade discriminatório para os porto-santenses: estando o valor máximo das viagens entra a Madeira e o continente ou os Açores com direito a reembolso estipulado em 400 €, não se compreende como, no caso dos porto-santenses, esse limite não foi alargado para os 471,92 €, na tarifa geral, e 461,92 €, no caso da tarifa de estudante, incorporando os valores da deslocação interilhas ao preço de residente.

• Taxas de alteração, de última hora e falta de comparência exorbitantes.
• Bilhetes one way (num só sentido) caríssimos.

• Horários dos voos muito limitados, sobretudo no inverno, em que há apenas dois por dia, e no período em que o barco está em reparação; poucos voos de ligação para quem viaja do exterior e quer ir para o Porto Santo.

• Bilhete corrido: sendo os voos entre o Porto Santo e a Madeira operados por uma companhia diferente das que operam entre a Madeira e o continente ou os Açores, não foram criadas mecanismos informáticos compatíveis que permitam criar um verdadeiro bilhete corrido do Porto Santo para o continente ou os Açores. Na verdade, o sistema de reservas da companhia é completamente obsoleto. Isto obriga o passageiro a pagar muito mais, a ter de fazer dois check-in, a passar duas vezes no controlo, a ter de levantar a bagagem no aeroporto do Funchal e a despachá-la novamente.

• Transporte de passageiros com problemas de mobilidade: a aeronave a operar oferece enormes restrições aos passageiros com mobilidade reduzida.

• Pouca capacidade de carga deste avião.

• Taxas aeroportuárias altíssimas (responsabilidade do governo que não foi acautelada no processo de concessão do aeroporto à francesa Vinci), o que faz disparar os preços dos bilhetes.

Conclusão: o serviço prestado pela Aerovip não responde às necessidades do Porto Santo, nem às dos residentes, nem às dos turistas. No entanto, os funcionários da empresa prestam um serviço de qualidade, de proximidade e muito personalizado e a eles se deve a melhoria do serviço desde que a companhia começou a operar há três anos.
Ah, convém também dizer que o governo regional, ao contrário do que tem dito, é co-responsável pela criação de todos estes problemas e pela sua manutenção.
Já agora, para quem resistiu a ler até aqui, uma de futurismo: pelo que me parece, vêm aí novos problemas com o novo contrato de concessão.