Cálice de Honra


Parece que está a acabar uma era quase sem fim do tipo cerejas umas atrás das outras. A ver se me entendem. O poder na Madeira foi absolutista durante muito tempo pela compra de "gajeiros" na oposição, obtinham fidelidade com negócios do governo para provocarem discórdia nos seus partidos. Foram anos assim. A idade não perdoa e alguns foram encostando. Apareceram outros mais novos sem título de Renovados mas igualmente espertalhões, normalmente pequenos empresários, que viram como funcionava o esquema e sentaram-se nele sem mudar nada. De pequenos passaram a enormes. Entretanto a filharada do regime absolutista precisava de tacho e juntaram-se mais uns à festa do orçamento regional.

Na oposição havia outros "gajos" que mostravam os dentes em público adorando o bom tacho na Assembleia e algum arranjinho ou negócios no governo. Muitos limparam-se bem, o partido do poder absolutista mais depressa comprava um "gajo" da oposição do que era justo com alguns do seu próprio partido. Com os anos a passar, parecia que o esquema estava perfeito, oleado, muito tacho, muitos negócios, muita gente comprada, viveu-se uma era de ouro à conta dos dinheiros para as obras. A Madeira parecia um grande estaleiro e um galinheiro com os lobos sempre por perto. Poucos foram condenados, para não dizer quase nenhuns, só mesmo os broncos, o resto fugiu e têm andado a limpar o rasto aos bens e comprado a idoneidade junto de infelizes ou necessitados. Sabe-se que alguns faziam vida de coitados, remediados aqui mas depois alugavam aviões particulares para grandes farras no estrangeiro. O tempo não perdoa, o esquema foi envelhecendo e perdendo dinheiros da Europa. Quando finalmente descobrimos o tamanho dos negócios e da dívida, deitamos mãos a cabeça mas eles agarraram-se outra vez aos tachos e ao erário público, de retórica eles percebem apesar de nunca terem editado um livro. Alguns empresários do poder absolutista vieram de armas e bagagens para a política para ver se salvavam as empresas porque lá fora, em concorrência ou manfios piores, não sabiam trabalhar.

O absolutista foi encostado sob promessa de mudança, que não foi mais do que uma mentira para esticar a sobrevivência do velho esquema até aos novos mamões, para levarem também o seu, agora de velhos passar a renovadinhos. Perante isto, caem os velhos, com os novos e dependentes nasce nova era que rima com incompetente.

O lençol já não pega linha com tanto remendo e agora sim, sem mais hipótese, começam a despontar novas figuras na cena política. Aleluia. Ainda assim, mesmo da oposição aparecem de novo aqueles que mostram os dentes em público para deixar a mãozinha de lado à espera que o poder compre. A mama está seca e o povo com quarenta anos a ver o mesmo filme de esquemas já não acredita. Que venham novos a ver se há alguma esperança. Logo que encostaram os velhos, o PS respira mas ainda delira. O Bloco parece que quer mudar, o CDS também mas para bode velho porque são poucos com cara. O PSD e o PCP não vão mudar nunca, são iguais de convencidos, está errado mas querem assim. Aguardemos mas isto tresanda, estão a remexer e remover a porcaria.
Não há alma sem corpo, que tantos corpos faça sem almas, como este purgatório a que chamais honra: onde muitas vezes os homens cuidam que a ganham, aí a perdem."