Portugal menos democrático que Cabo Verde

Observatório da imprensa
Jornal Económico online com LUSA
31-01-2018 12:38

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Economist: Portugal é menos 

democrático que Cabo Verde

Conclusão é do índice publicado pela revista The Economist, que diz que o país luso tem uma "democracia com falhas".

A média global do índice de democracia no mundo diminuiu ligeiramente de 2016 para 2017, com 89 países a verem a cotação descer, contra os 27 que subiram, a pior performance registada pelo estudo do The Economist. Portugal mantém a posição, mas está abaixo de Cabo Verde.
Segundo o relatório de 2017 hoje divulgado pelo The Economist Intelligence Unit, subordinado ao tema “Free Speech Under Atack” (“Liberdade de Expressão Sob Ataque”), dos 167 países analisados, 51 estagnaram, entre eles Portugal, considerado pelo estudo como uma “democracia com falhas”, mantendo o 26.º lugar, três abaixo de Cabo Verde, o Estado lusófono mais bem classificado.
No relatório, o 10.º (o primeiro foi lançado em 2006), três países nórdicos – Noruega, Islândia e Suécia – lideram a tabela do Índice de Democracia, dividida em “países totalmente democráticos” (19 Estados), “democracias com falhas” (57 – entre eles Cabo Verde, Portugal, Timor-Leste e Brasil), “regimes híbridos” (39 – entre eles Moçambique), e “regimes autoritários” (52 – entre eles Angola, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial).
Nas últimas cinco posições do “ranking”, em que São Tomé e Príncipe não consta, figuram a República Democrática do Congo, República Centro Africana, Chade, Síria e Coreia do Norte.
No relatório é salientado que, em 2017, não houve uma única região do mundo que registasse melhorias no índice (Estados Unidos e Canadá apenas conseguiram manter o valor), realçando-se que um terço da população mundial vive sob um regime autoritário, com a China, devido à dimensão populacional, a ser considerada como “grande responsável”.
O The Economist lamenta o “desapontamento com o atual momento da democracia”, realçando o declínio registado nas liberdades de imprensa e de expressão em todo o mundo, o que permite chegar à conclusão de uma “recessão democrática”, tal como refere Larry Diamond, especialista citado no estudo.
“Esta tendência de estagnação e/ou regressão tem vindo a ser refletida no índice de democracia desde 2006”, salientou Diamond, apontando como causas a diminuição da participação popular na política e nas eleições, o enfraquecimento do funcionamento dos governos, o afastamento das elites políticas em relação ao eleitorado e aos declínios da confiança nas instituições e da liberdade de imprensa, entre outras razões.
Segundo o relatório, existe um paradoxo entre o alto nível de apoio popular às democracias e o “profundo descontentamento” com a forma do seu funcionamento e do sistema de representação política.
“Este desapontamento é particularmente pronunciado no mundo desenvolvido e ajuda a explicar a revolta popular contra os partidos tradicionalmente de poder e as elites de serviço”, lê-se no documento, exemplificando como consequências a votação que levou o Reino Unido a sair da União Europeia (UE) e a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos.
Para o The Economist, se 2016 foi um “ano notável” para o surgimento dos populismos nos países desenvolvidos, 2017 pode ser definido como uma “revolta” contra esse mesmo populismo, que inclui campanhas para reverter o “Brexit” e para afastar Trump da Presidência norte-americana.
“A reação de alguns académicos, jornalistas e políticos aos acontecimentos de 2016 foi clara, de que a democracia liberal está em risco, com a ascensão da ‘democracia iliberal’ e do ‘autoritarismo’”, lê-se no documento.