Mandato da "manutenção": Porto de Recreio de Santa Cruz



As obras marítimas ou da orla costeira do Arquipélago da Madeira enfermam todas do mesmo problema pelo simples facto destas terem sido pensadas para a mesma "panelinha" das obras que copiaram vezes sem conta a mesma solução. Os concursos se fossem realmente livres, cada concorrente apresentava a sua proposta e a vencedora ia para o terreno para ser construída. Depois disso, a diversidade de abordagens nas construções marítimas ditariam, independentemente do preço, qual das diversas soluções seria a mais apropriada para a Madeira. A experiência recolhida ao longo dos anos seria validada na concepção dos futuros Cadernos de Encargos. Assim não foi, todas as obras subordinaram-se às mesmas pessoas, empresas e a tal panelinha que pensou, projectou, realizou e fez ganhar dinheiro, deixou à região um quebra-cabeça enquanto eles, de momento, gozam do dinheiro, comprando cada vez mais a Madeira e prevaricando ainda mais enquanto patos bravos desta região que não respeitam.

A forma mais simples de explicar ao cidadão comum o colapso das obras marítimas da região tem no parágrafo anterior o "esquema" de adjudicação. Quanto às obras, quase sempre optaram por caixões de betão pré-fabricados, deslocados para o local, feito um assentamento no fundo do mar e a partir daí empilharam os caixões e revestiram. Quando observar um paredão de betão maciço a ser derrubado não pense naquele volume fora de água, pense no mar a descalçar a base dos caixões assentes e toda a estrutura a ceder para por fim desmoronar.

Outra certeza é que as obras foram feitas para ganhar dinheiro, não para durar, o problema é que o sentido de aproveitamento de todos os fundos comunitários para a construção semeou uma enorme quantidade de obras de betão que carecem de manutenção e, só isso, é uma pipa de massa incomportável para orçamento da região. Assim, apesar da folia do betão prosseguir vamos assistindo, por degradação continua ou aceleração por tempestades, ao nascimento de verdadeiros monumentos da nova Madeira Velha. Porque é mais difícil disponibilizar dinheiro para manter, a loucura das novas construções continuam e o problema avoluma-se. Chegaremos ao dia onde a Pérola do Atlântico será um vazadouro de betão velho e ferro oxidado. É aqui que a APRAM, sempre sorvedoura de injecções de capital, deveria usar um negócio altamente rentável para manter as estruturas da Região em vez de permitir o enriquecimento sem custos do tal Grupo.

Desta última sequência de estragos provocados pelas intempéries nas marinas, paredões, cais, varagens, equipamentos, ETARs, etc, somam-se outros que já existem sem qualquer intervenção e oriundos de outras intempéries ou da simples degradação com o tempo. Segue-se a ilustração de como está o Porto de Recreio de Santa Cruz, exemplo onde os caixões cederam descalçados, onde a armação em ferro está muito à superfície do betão, oxida e estala, onde o mar "varre" a calçada portuguesa e paredões, equipamentos e estruturas, onde a natureza está a repor a praia que existia e onde todas as palmeiras adultas importadas morreram (e são largas dezenas). Ali se vê a incompetência e a falta de seriedade na abordagem das obras marítimas na Região a todos os níveis, desde a planificação, à qualidade da solução e dos materiais usados.

Amplie as fotos, valem mais do que mil palavras, observe os claros indícios do que foi narrado:

Desmoronamento da secção de cais à entrada do Porto de Recreio

Desmoronamento da secção de cais à entrada do Porto de Recreio junto ao varadouro

Pormenor que ilustra a razão do desmoronamento

Varadouro descalçado, deslocado e já sem continuidade com a restante obra

Caixão caído dentro do varadouro depois de se deslocar com "facilidade"




Seguem-se umas imagens relativas aos pilares que seguram a Via Rápida e a porção de aterro sobre o qual assenta a pista do aeroporto. Observem como numa zona de mar se coloca o ferro tão à superfície do betão. A zona é frequentada para lazer e manutenção tanto de locais como de estrangeiros alojados nas unidades hoteleiras da vila.






O memorial às vitimas do acidente aéreo TP425 19-11-1977 já não dignifica os seus propósitos, está degradado e sujo. Foi concebido para receber atenção regular, coisa que não recebe, a tal "manutenção". Parece que se tornou terra de ninguém, como tantas outras obras na ilha, construídas por meia bola e força, sem ponderação legal e técnica, muito menos com a preocupação de evitar a "manutenção". Parece que o memorial tem uma dedicatória muito para além do óbvio sobre aquele local:
"E mesmo quando já ninguém se lembrar,
estarei aqui para refrescar memórias e espíritos 
de quem por mim passar."








Todas as palmeiras importadas morreram e foram cortadas, cerca de 3 dezenas.