Jaime faz-me um filho para subir na vida


"Renovam-se" as esperanças de um novo e melhor Parlamento e um Executivo mais consciente de que não pode governar para si porque a Madeira está a morrer sem filhos, sem rendimento e sem oportunidades. Tudo à conta dos oportunistas que limpam tudo. Eles levam tudo e não deixam nada.

Somos prisioneiros. Estamos numa ditadura. Uma matryoshka de capas e capas de sangue-sugas dedicados ao poder, único lugar onde se pode ser inculto e incompetente sem pagar por isso e até se recebe ordenado chorudo. Basta ser lambe-cus e estás feito na vida, quantos improdutivos se riem do seu sucesso que nos mata. Como essa que se vangloria com três a zero e não vai vigiar a agora canga de bois dos seus colegas de partidos que não "cumprem" com a legislação ... e por isso ganham muito dinheiro. Uma parva e aliviada que poderá continuar a ser uma espertinha sem utilidade. Se não o tem é elegível, que desgoverne todos e se governe a si.

Quase sempre e, tipo vingança, quando um dinossauro do PSD perde as estribeiras há uma fase em que cobra tudo. Foi assim com a Renovação e vai ser assim com o novel Presidente da Assembleia Legislativa Regional. Ai queres? Toma! Parece que há um código de dependências, deve ser deontológico de abutres, que quando se extinguem há que cobrar. Aí avança um Jaime senhor dos truques, com nome em tudo e quase nada, com testas de ferro e mão escondida mas estendida, que recebe primeiro do que todos e impõe as regras mesmo sem poder. Esperai por este milhafre, cientificamente um Milvus e Circus da família Accipitridae. Ave não rara mas raríssima no conceito do situacionista que papa o milho todo.

Ai como queria eu ter um filho dele para lhe poder assegurar sucesso nesta terra. Nem todos podem ter um pai que desafia tudo, até a lei da gravidade. Nem todos podem ter um sumptuoso filho que não vale nada, nem coberto de ouro, mas ser um importante da penumbra que passa o tempo escondido de todos na hora do voto. Toca a sineta, passou o pior, surge o espertalhão, um sanita menor, o primeiro a se sentar à mesa das negociações para até botar o Presidente do órgão mais importante da Madeira a andar. Tivemos aí o óbvio, até graúdos e astutos são parvalhões nas mãos deste poder efectivo à margem da democracia. Cai e cai mesmo, o poder tem que ficar na família para continuar a facturar.

Aqui entram outros milhafres, Milvus e Circus, pensando em si e sorrindo do momento que a democracia e a matemática propicia, nem imaginam que ficarão com a conta bem recheada mas também com um registo histórico do fim do CDS-M. Os bengalas vão juntos, alegres e inconscientes, dando oportunidade àqueles que percebem mais de política para se imiscuir na sua vida partidária que lhes vai arrancar militantes, pela sedução do poder e das poucas oportunidades. Já assim foi no passado quando o PS nunca arrebitava careca. Queres o CDS ou o PSD? Já basta de sofrer com esses anões que por ocasião se tornaram gigantões. Isso passa e ficará sempre uma grande margem laranja porque os pigmentos azuis diluem-se para se perder.

Não bastava um cagão agora teremos dois, líderes para lamentar, o que a democracia nos faz. A verborreia será imensa mas não percebem nada da vida e muito menos de política. É o momento, nem todos querem usufruir do chiqueiro, seguem os que estão habituados, senhores da democracia ditatorial da Madeira Nova com poucos autónomos e muito autómatos. Isto é que vai ser legislar e governar para os lóbis. Madeira a saque ... emigre e goze. Pode ficar ... mas pobre.

Leve na lembrança que daqui a mama nunca chega e a do pai dá mais leite.

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Obrar

Naquele outono, de tarde, ao pé da roseira de minha
avó, eu obrei.
Minha avó não ralhou nem.
Obrar não era construir casa ou fazer obra de arte.
Esse verbo tinha um dom diferente.
Obrar seria o mesmo que cacarar.
Sei que o verbo cacarar se aplica mais a passarinhos
Os passarinhos cacaram nas folhas nos postes nas pedras do rio
nas casas.
Eu só obrei no pé da roseira da minha avó.
Mas ela não ralhou nem.
Ela disse que as roseiras estavam carecendo de esterco orgânico.
E que as obras trazem força e beleza às flores.
Por isso, para ajudar, andei a fazer obra nos canteiros da horta.
Eu só queria dar força às beterrabas e aos tomates.
A vó então quis aproveitar o feito para ensinar que o cago não é uma
coisa desprezível.
Eu tinha vontade de rir porque a vó contrariava os
ensinos do pai.
Minha avó, ela era transgressora.
No propósito ela me disse que até as mariposas gostavam
de roçar nas obras verdes.
Entendi que obras verdes seriam aquelas feitas no dia.
Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas
desprezíveis
E nem os seres desprezados.

Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros

Temos um roseiral cacarado por uma sanita. Sophia de Melo Breyner