“Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer (....) Desde que estamos aqui, experimentámos várias posições para nos ajeitarmos a dormir melhor: ora todos em fileira, ao lado uns dos outros, para a cabeceira da cama, ora distribuídos como agora, três para cima e dois para baixo, ou, então, com um dos miúdos (a Lino ou o Zé) atravessados a nossos pés(...) isto com insucessos, preferências, trambolhões cama abaixo, muitos pontapés, mijas, rixas, complicações de família e ciumeira e choros e berraria, às vezes, resolvidos em família entre risos, lágrimas, bofetões, beijos, descomposturas, carícias leves. Também na cama as posições variavam conforme o frio ou o calor faziam na cama, conforme, principalmente, o frio convocados os cobertores (um, ou dois) à pressa, num afã de Salivação Pública (nossa) e seguiam depois para o prego (...)”
Extracto de uma obra minha, euzinho mesmo, Luiz Pacheco. Quando escrevi era sobre a família mas agora, cada dia mais, acho que escrevi sobre a política regional. Isto é uma orgia toda ligadinha pelo que Deus lhes deu. Afinal não são 5, são muitos mais, oxalá a cama aguente! Quero esse movimento de anca sincronizado, vamos lá, upa para a frente, upa para trás, agora mais rápido para aquecer. Deram o lubrificante?