Um bonacheirão na casa de horrores




De súbito, por estes dias, o nome de Manuel António circula nas conversas de café, e não só, devido à sondagem levada a cabo pelo CM que, longe da atenção dos clicadeiros viciadeiros produziram um resultado surpreendente por entre os 4.231 votantes que não são consulta pequena. Acreditamos que esta consulta foi ao natural e que só depois os dependentes das eleições se aperceberam da magnitude do que se passou.

Quem venceu e a distribuição de posições mostram que se derem opções ao povo este muda. Há uma clara vontade de refrescamento da cena política regional. Daqui resulta muito pano para mangas.

Peguemos num só, Manuel António Correia, o vencedor, arrancando pelos restantes do PSD-M na sondagem. Uma governação com pretensões não pode ficar com os líderes naqueles lugares. Se Calado é uma aposta, está a correr mal, não tem projecção nem notoriedade para alcançar a preferência e liderar uma lista. Albuquerque, mesmo que à frente de Calado, está num lugar sofrível. Ao que parece, votaram num consagrado e com experiência governativa (Manuel António) rejeitando a Renovação com ligeira vantagem sobre o promissor (Paulo Cafôfo). A sondagem veio despercebida num momento de política distraída com internas e sem stress de eleitoral que coloca os sentidos em alerta. Indicia que em jogo limpo, um inquérito sem clicadeiros viciadeiros, o resultado foi o mais real possível e sobretudo duro. Mas, antes agora e o PSD-M tem que começar a encarar com realismo a situação porque caso contrário as suas hipóteses são nulas.

Ainda assim, com Manuel António, o bonacheirão que pode ser o antídoto para o "Cool-gate", a tarefa não é fácil, diria colossal numa casa de horrores. Vejamos!

Manuel António é referência de um Governo de Jardim, aquele que o eleitor cansou de ver ditador, perseguidor, autoritário, surdo, insistente na política de obras quando já não havia dinheiro, autor do calote que meteu as famílias em problemas para pagar as dívidas do GR para ficar sem dinheiro para pagar as suas. Manuel António caiu com o líder por via de indicações nas eleições que deram força à linha de Miguel Albuquerque que vinha para mudar tudo, vinha para ser diferente. Aquele momento foi entendido pelo eleitorado como um compromisso de radical mudança quando a oposição não engrenava todavia. Do menos mal, o povo foi muito condescendente e votou noutra versão do mesmo partido que lhes estragou a vida. Aquele foi o momento do tudo ou nada, a última oportunidade mas, parece que o PSD-M não entendeu e ardeu por completo a confiança pelo resultado da governação nestes 3 anos.

Neste momento, Miguel Albuquerque voltou a ser do PSD-M do calote, um político que mentiu para chegar a governante. O discurso radical foi treta. Ele e muitos resolveram nestes anos as suas vidas, era o saldo que mais lhes interessava. De resto, a aura dissipou-se, o eleitor sente-se traído e até com raiva porque o passado regressou em plenitude de figuras e obras. Já estamos a querer mais dívida para obras com um hospital a ser prova do desleixo com o povo. Agora nem beijando a Sissi. Havia muito mais para dizer, mas o leitor sabe tanto quanto eu.

Agora pode surgir Manuel António do mesmo PSD Madeira, ex-secretário de Jardim, que cresceu sob sua protecção e que foi o candidato apoiado por este nas internas. Quanto vale este Manuel António para conseguir endireitar o PSD-M? Estará aquele partido aflito ao ponto de perceber que vai para a oposição e não há mais desculpas? As ratas velhas desamparam a loja?

Os Renovadinhos que acharam este o seu tempo e que demonstraram impreparação, insolência, soberba, arrogância, perseguição, desrespeito, incompetência, antas sem referências históricas que produziram um achamento que caiu em ridículo nas eleições autárquicas, vão desamparar a loja sendo a política o seu local de emprego? Justo agora que estão a ser brindados por concursos com vínculo definitivo ao GR e que trataram de abarrotar com mais dos seus?

Manuel António terá coragem de limpar os esquemas e negócios instalados à volta do poder do PSD-M, por elementos históricos ou de empresários lobistas, sempre com palavra para tornar o governo dos cidadãos numa associação corporativista? O eleitor também está sobretudo cansado disto.

Que pode fazer um bonacheirão nesta casa de horrores para chegar às eleições com cara limpa e credível? A última oportunidade já aconteceu e o PSD-M desperdiçou. Agora até podem contar a verdade, vai ser difícil acreditar. Se Manuel António é hipótese, o trabalho é imundo e tremendo, com remendos não ganha.


A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva."