Os tachos queridos.


Há vinte anos atrás um amigo meu casou-se, e como era costume oferecer presentes para o enxoval perguntei-lhe o que queira. Ele disse-me que não queria nada, mas que a Maria tinha uns tachos numa Lista no Imperio das Louças. E como o dinheiro não abundava contribui para uns tachos da Silampos. Vinte anos depois, fiquei contente de saber que, ele continua casado, feliz, e a utilizar os mesmos tachos.

Hoje já ninguém quer tachos para o enxoval. Hoje, os tachos, são presentes políticos como forma de premiar a dedicação nas campanhas. Toda a gente sabe que andar a distribuir panfletos, ir às igrejas sorrir para os devotos, e carregar bandeirinhas, é melhor do que estudar cinco anos numa Universidade e trabalhar 24 horas por dia.

E o mais grave de tudo é que os tachos estão a se banalizar e não vai dar para todos. No tempo do velho Jarreta os tachos eram mais comedidos e discretos, e hoje é feito tudo às claras e com o maior descaramento. E o mais escandaloso é que arranjam-se tachos dos mais variados tamanhos e formas para Secretarias Regionais que nem sequer precisam. E imagine-se que para justifica-los até se inventam trabalhos e funções inimagináveis.

O problema é que, com estas nomeações ao desbarato está-se a criar um precedente perigoso, e consequentemente, a agravar o descontentamento dos quadros da Função Pública que diariamente lutam por prestar um bom serviço público. Então não há dinheiro para o funcionamento e há dinheiro para nomeações pagas a peso de ouro? Então os funcionários públicos têm que levar o papel higiénico de casa para limpar o cú porque o serviço não tem, e agora nomeiam-se  comediantes que ninguém sabe o que vão fazer? Será que o cargo é para limpar o cú dos funcionários?

A difusão dos tachos está a tomar proporções desmesuradas, pois até se conta  nos corredores da Assembleia Regional, que um certo deputado anda a fazer chantagem para arranjar tachos definitivos para os seus queridos mais próximos (ou íntimos?) nos quadros da Função Pública. Claro que  sem malícia.

E pelo andar da carruagem, advinha-se, para fins de 2019, uma data de nomeações definitivas, pois não vá o Diabo tecê-las, e perder-se as eleições e os tachos. Estamos com a cozinha a abarrotar de tachos com uma despensa vazia de comida. Temos mamutes de betão para enriquecer e idiotas a atolar a Função Pública, cada vez maior em quantidade e incompetência.

A questão agora é saber se os tachos vão acabar com o próximo Governo, ou se apenas vai mudar a marca das panelas. Será que agora  vão ser Panelas Silampos?

Vamos esperar para ver.
Há quedas que provocam ascensões maiores.
 William Shakespeare