600 anos da descoberta da Madeira – um caso a investigar



Por ocasião dos 500 anos da cidade do Funchal, muito se comprou, acordou e negociou com dinheiros públicos no Gabinete das Comemorações dos 500 anos da Câmara Municipal do Funchal. Na altura, Faria Paulino, juntamente com Pedro Calado, negociaram vários contratos cujos valores fizeram suspeitar muita “coordenação” paralela sem nunca se ter conseguido provar nada.

Passados 10 anos dessas comemorações, temos agora as comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira, cuja organização está a cargo da Secretaria Regional do Turismo e Cultura do Governo Regional da Madeira.

À conta dos 600 anos da descoberta da Madeira quanto se vai gastar? Ninguém fala nisto? Parece muito mais para contentamento de alguns do que para celebrar os 600 anos. Para não falar na falta de profissionalismo na elaboração da lista de eventos prevista, a natureza de alguns desses eventos leva-nos a questionar as verdadeiras intenções dos responsáveis por estas comemorações, nomeadamente o evento previsto para o dia 4 de julho, em Washington, na embaixada de Portugal, com o título “Toast to America”. Para começar, não deveria ser antes intitulado “A Toast from Madeira”? A Madeira vinha ao dia dos EUA brindar para que o nome, só por si, já fosse uma fonte de divulgação do destino. Ou será que acham que são a Rainha de Inglaterra e terão cobertura internacional do evento? Já pararam para pensar que impacto terá este evento para a economia da Madeira? Mas ainda alguém acredita que vão trazer turismo? Ou ... vão fazer turismo?

E já que vai uma comitiva oficial a Washington, esse lugar marcante das descobertas, com direito a despesas de deslocação, viagem e estadia pagos à nossa custa, não se conjugava este evento com outros para compensar a deslocação paga pelos dinheiros públicos? Ou este evento constitui o pretexto para terem umas férias pagas? Qual foi o retorno da anterior visita do senhor presidente aos Estados Unidos e ao Canadá? Recordam-se? A oposição viu a pipa de massa?

E é ou não verdade que vão pagar 50.000 euros por uma estátua a ser colocada no Porto Santo, valor este que não inclui os valores de transporte de Portugal Continental para o Porto Santo que vai ser pago à parte? Tenho curiosidade em saber como vai ser essa estátua. Não façam mais uma para sermos gozados e ser contraproducente! Para 50.000 euros tem de ser algo deslumbrante. Ou será que estamos perante mais um caso duvidoso de uso de dinheiro público?

Não seria de alguém vigiar estas contas? E a nossa oposição nada vai dizer? Não vai controlar os gastos? Gestão pública danosa tem consequências graves. Vai a oposição depois apontar o dedo sem olhar para as suas responsabilidades na falta de alerta e controle dos dinheiros públicos?

Pedro Calado, antes de ter saído da Câmara Municipal do Funchal, afirmou e jurou a pés juntos que a Câmara Municipal do Funchal tinha uma situação financeira sólida e estável. Descobriu-se depois através de uma auditoria que afinal a dívida da Câmara Municipal do Funchal era aproximadamente de 100 milhões de euros.

Estaremos perante outra fonte de endividamento da Região e seremos surpreendidos com sobretaxas para pagar erros da governação? Até quando vamos deixar surgir dívidas ocultas como cogumelos? Até quando vamos deixar esbanjar dinheiros públicos? Até quando vamos deixar maus gestores saírem impunes? Acho que todos já sentiram que de repente o Governo Regional tem dinheiro para tudo.

Toca a exigir uma gestão transparente e eficaz dos dinheiros públicos. Chega de abusos e de se comportarem como “donos disto tudo”.

Há almas privilegiadas e únicas que nada têm a ver com a lógica absurda das leis humanas. As turbas inconscientes e boçais lançam, à face de certos entes, anátemas que o céu, se o há, não deve perdoar. À gargalhada insultante deste mundo responde a infinita serenidade do que fica para Além e que os olhos míopes não vêem.”
Florbela Espanca