Escrever, enquanto comentador, está-se a banalizar na Madeira a partir do momento em que começa a ser entendido como veículo de promoção e não de esclarecimento ou debate público. Proliferam os comentadores do tipo atestado de vida, veículo promocional, panfleto de intenções e vontades, um espaço onde se "martelam" as ideias que andam na sociedade mas que não dão jeito pessoal ao comentador.
Não se escolhe comentadores pela notoriedade mas em sede de gente inteligente e decente, onde quer que esteja, corajosa e capaz de dar novos olhares sobre a realidade. Escolher um comentador não é repetir os que deveriam estar a ser analisados e que acabam por maniatar, nem que seja por gratidão, os órgãos de comunicação social onde colaboram.
Alguns comentadores deveriam ter o bom senso de facilitar a vida a quem os convidou e deixar o lugar à disposição, perdida que está a credibilidade e a autoridade das suas palavras. Um meio de comunicação que dá guarida à opinião deformada ou tendenciosa só atormenta a sua credibilidade porque compactua
Ser comentador, ao contrário do que se faz na Madeira, não é função que exibe causas próprias ou usa o espaço privilegiado para atingir benesses. O espaço do comentador implica pluralidade, distanciamento dos interesses, ética, coragem, inovação, estar um passo à frente, ser um visionário que alerta como num jogo de xadrez quando se adivinha jogada que vai ocorrer dentro de dois ou três movimentos. Alguns comentadores coleccionam palcos da comunicação como forma de persuadir ao seu interesse.
Ser comentador é muito similar de ser um representante do povo. Se prevarica deve perder o "mandato". O deputado se não for idóneo ou não actuar com ética deprecia-se no eleitorado e, num partido sério, chegada a hora das escolhas ficará apeado. Na informação sucede o mesmo, até podem dar muito jeito aos esquemas de facturação mas o órgão deprecia-se ao leitor ao ponto de ter menos tiragem ou audiências que por sua vez matam a apetência da publicidade que os sustenta. É uma pescadinha de rabo na boca que só se resolve com equilíbrio. O papel do 4º poder é incutir a decência e ela anda escassa na Madeira.