Aqui vamos nós festejando os 600 anos sem sabor com um dinossauro ao leme, deslocado dos feitos históricos pois a sua vida foi evitar a prisão de gatunos, meter areia na engrenagem da justiça para os seus amigos não serem condenados, manipular as brechas da lei, salvar o "cordão" à bolsa.
A jeito de festejo, hoje Jardim recebeu o seu Cordão Autonómico que esperamos nunca venha a ser manchado por descobertas à posteriori, o que é provável se houver alternância na Região, assim um pouco como Ronaldo, um grande jogador que fugiu ao fisco mas que o nome nunca mais sai do aeroporto para que os ventos se acalmem. Jardim já tem a honraria máxima, só se fala de construção com um povo pobre.
Este cordão abre portas a que se distinga também os piratas e corsários argelinos que em 1617 levaram tudo do Porto Santo, até a sua população para serem vendidos como escravos, sobretudo gente nova e fértil para propagar a fé. Foi uma emigração forçada, nada diferentes dos nossos dias.
O paralelismo avoluma-se quando se vê que nada está diferente do Porto Santo actual onde Sousa e Pestana saqueiam e a ilha não tem ordem nem progresso, daquele que respeita as dunas, as oportunidades para todos, o comércio, etc. Conta só a escravidão do povo para o lucro dos piratas e corsários, que como qualquer um, não respeita ninguém. Se propagares esta fé dos donos do Porto Santo até poderás ser governante ou ter lugar nos Estados Gerais do PS-M.
O Porto Santo sempre foi terra de anedota, por simples desconversar ou por maldade. Neste fim de semana tivemos um promotor de rallies, também copiloto, chefe de tudo e mais alguma coisa das máquinas roncadoras e fumarentas que, investido de vice-presidente, foi levar a boa nova dos carros eléctricos. Se calhar o próximo Rally do DDT na ilha será com carros eléctricos. Aguardemos pelos resultados do espectáculo circense do corsário do betão.
Esta pequena exposição tem origem no homem do cordão, os exageros, os monopólios, o poder de joelhos, a emigração, a falta de desenvolvimento integrado, a "venda" da ilha, os atentados ambientais, entre outros, sem nunca esquecer esta descendência idiota a que chamam de Renovação.
O Porto Santo até tem honras de estar sob tutela do Presidente, que azar, esvaziado de poder, colocado na prateleira e senhor dos convívios que nada traz de útil à ilha do primeiro achamento. Por mim "snifava" a areia toda.
Faz impressão que, para entregar um cordão, por necessidade política, se goze do povo, da pobreza e da história. O cordão é uma desonra e implica branquear toda a pirataria. O pirata vai rico deixando muito morto atrás.
Nós Somos Vida das Gentes
Sempre é morto quem do arado
há-de viver.
Nós somos vida das gentes,
e morte de nossas vidas;
a tiranos pacientes
que a unhas e a dentes
nos têm as almas roídas.
Pera que é parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador,
não tem tempo nem lugar
nem somente d'alimpar
as gotas do seu suor.
N'ergueija bradam co'ele,
porque assoviou a um cão;
e logo excomunhão na pele,
o fidalgo, maçar nele,
atá o mais triste rascão.
Se não levam torta a mão,
não lhe acham nenhum dereito.
Muito atribulados são!
Cada um pela o vilão
per seu jeito.
Trago a prepósito isto,
perque veio a bem de fala.
Manifesto está e visto
que o bento Jesu Cristo
deve ser homem de gala.
E é rezão que nos valha
neste serão glorioso,
que é gram refúgio sem falha.
Isto me faz forçoso,
e não estou temeroso
nemigalha.
(excerto)
Gil Vicente, in 'Auto da Barca do Purgatório'