Choques no Cafôfo


Cafôfo estava Calado, até parece trocadalho, depois foi para férias, juntando os dois dá um profundo silêncio público sobre o que interessa. Alguém dá uns choques ao Cafôfo a ver se ressuscita? A táctica de fazer o PSD trambulhar pelos seus próprios pés embrulhados na língua comprida pode dar para o torto. O mayor careca tem muito para se explicar quanto a políticas, opções e as escolhas de pessoas. Do pouco que errou o povo já fez o filme, quando acordar vai tarde. Parece que Cafôfo consome tempo para no fim dizer o mínimo, o que já nos diz que está ali um grande "estadista" muito confiante. 

Pela câmara, os que não estão de férias dizem que o ambiente melhorou, as ausências deixam despachar serviço em vez de obstaculizar com confusões. É mais um caso onde o Super-Vice faz pensar que era bom despachar o Presidente para mais altos voos. Uns pensam no Parlamento Europeu, outros na Presidência do Governo Regional, o que na prática é rodar os cromos e ficar na mesma.

Ai sofrimento o nosso! Tirem-me deste filme.
Amor o Quis assim

Agravos de Colopêndio 
Pois Amor o quis assi, 
que meu mal tanto me dura, 
não tardes triste ventura, 
que a dor não se doi de mi, 
e sem ti não tenho cura. 

Foges-me, sabendo certo 
que passo perigo marinho, 
e sem ti vou tão deserto 
que, quando cuido que acerto, 
vou mais fora de caminho. 
Porque tais carreiras sigo, 
e com tal dita naci 
nesta vida, em que não vivo, 
que eu cuido que estou comigo, 
e ando fora de mi. 

Quando falo, estou calado; 
quando estou, entonces ando; 
quando ando, estou quedado; 
quando durmo, estou acordado; 
quando acordo, estou sonhando; 
quando chamo, então respondo; 
quando choro, entonces rio; 
quando me queimo, hei frio; 
quando me mostro, me escondo; 
quando espero, desconfio. 

Não sei se sei o que digo, 
que cousa certa não acerto; 
se fujo de meu perigo, 
cada vez estou mais perto 
de ter mor guerra comigo. 
Prometem-me uns vãos cuidados 
mil mundos favorecidos, 
com que serão descansados; 
e eu acho-os todos mudados 
em outros mundos perdidos. 

Já não ouso de cuidar, 
nem posso estar sem cuidado; 
mato-me por me matar, 

onde estou não posso estar 
sem estar desesperado. 
Parece-me quanto vejo 
Tudo triste com rezão: 
cousas que não vem nem vão 
essas são as que desejo, 
e tôdas pena me dão. 

Eu remédio não no espero, 
porque aquela, em que me fundo, 
pera mi, que tanto a quero, 
tem o coração de Nero 
pera me tirar do mundo. 

Gil Vicente, in 'Antologia Poética'