A Mobília da Senhora Procuradora


Armando Vara vai ficar para a história como o primeiro político condenado a cinco anos de prisão efetiva por três crimes de Tráfego de Influências. Já ninguém se lembra que este senhor já foi Ministro da Juventude e Desporto depois de ter sido secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, ou seja, a vida dá umas voltas, e pela boca morre o peixe (peço desculpa ao PAN pelo uso indevido do proverbio com animais), e foi até caricato ver o desespero de Armando Vara quando na televisão insinuou que, o que falhou foi não ter comprado o Juiz Carlos Alexandre com o cargo de Diretor do SIS.

Claro que isto tudo aconteceu para os lados longínquos de Lisboa, e não é para admirar, porque toda a gente sabe que os portugueses do Continente são todos tendencialmente delinquentes criminosos e corruptos, ao contrário de nós madeirenses que somos honestos por hereditariedade genética. Diga-se, que em 40 anos de regime democrático, e seis mil milhões de euros de dívida depois, não há um único condenado político, seja pelo que for. Se isto não é prova de honestidade, o que é?

Por falar em honestidade, lembro-me de uma conversa, há vinte anos atrás, com o velho jarreta onde ele transmitiu-me a crença que em política nunca se deve ter medo de ninguém, mas depois parou para pensar, e acrescentou a sorrir, com exceção de médicos e de juízes. E foi assim que fiquei a saber que o velho jarreta tem mais medo de médicos e de juízes do que de Deus.

E, bem a propósito, no outro dia, ouvi na radio uma rara entrevista da Senhora Procuradora Coordenadora dos Serviços do Ministério Publico da Comarca da Madeira. Não fosse a radio ser a JM e o jornalista ter lido perguntas previamente encomendadas que até podia ter sido uma entrevista simplesmente brilhante.

Como ia a conduzir, ficou-me apenas na retina, uma história que a Senhora Procuradora contou sobre uma carpintaria, e sobre a importância das ferramentas. Contou a Senhora Procuradora que numa carpintaria havia um martelo, um serrote, e uma lixa, onde todos estavam convencidos que eram as ferramentas mais importantes, mas que depois descobriram que  sem o carpinteiro não conseguiam fazer uma simples mobília.

A história parecia banal, mas não era. Não foi difícil de perceber, nas entrelinhas da história da carpintaria, os objetivos da Sra. Procuradora, que no fim da entrevista até prometeu fazer uma mobília para colocar no Palácio da Justiça da Madeira.

A história foi interessante e teve a sua graça, mas no fim ficamos todos sem saber se a mobília era uma comoda com muitas gavetas para guardar os processos difíceis, um sofá para descansar, ou uma cama para dormir. Mas como a esperança é última a morrer, vamos esperar que o caruncho (o bicho da madeira) não corroa a madeira e a mobília se estrague.

Um Feliz Natal Senhora Procuradora.

"Tanto dá com o martelo o carpinteiro, que enterra o prego na alma do madeiro"

Provérbio Português