Foto retirada do Diário de Notícias online e da autoria de Rui Silva - Aspress |
Estamos de luto por 3 dias, serve para reflectir sobre a morte e as circunstâncias, uma introspecção do sucedido e homenagear as vítimas. Tenho algumas considerações para fazer sem pruridos de qualquer espécie, coisa que tenho observado na página do Facebook do CM. Julgo que a plataforma tem respeitado e bem a situação. Reparei que existe alguma falta de capacidade de interpretação em algumas pessoas nalguns textos subtis que tentam lançar debate mas estão aturdidas e incrédulas, envolvem a emoção e muitas vezes lêem o que querem e não o que está escrito.
No "day-after", sem ter contudo decorrido 24 horas, talvez seja um risco comentar mas aceito o desafio.
Do que sei, tanto motorista como a guia turística eram bons profissionais, o motorista era tido por adoptar uma condução defensiva. Ninguém está livre de cometer erros mas neste caso parece que a falha, por determinar, começa muito antes da curva e o motorista vai tentando travar o autocarro como pode, encostando-se às paredes. Não conseguiu. Com alguns dados, mas de forma empírica, creio que devemos ir para um problema na máquina. Investigue-se.
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Alguns, talvez mais importados com a política, têm se perguntado se aquela estrada é regional ou municipal. O Presidente da Câmara de Santa Cruz já emitiu opinião e coloca-se assim na linha de fogo. É tanto verdade que ele exerce a Presidência do Município e o Presidente do Governo não exerce a da Região. É verdade que existia uma guarda metálica mas isso indica que estavam preocupados com as pessoas que por ali passam, não com o tráfego rodoviário. No entanto, rail ou parede de berma, tal como as conhecemos, não segurariam aquele embate. Esta experiência mostra que há sinalização local para transitar a baixa velocidade mas temos que contar com a eventualidade, como esta, e não com a regularidade. Há aspectos para melhorar aqui.
A principal razão das mortes foi a projecção das pessoas para fora do autocarro, a inevitabilidade, por legislação, de deixar os corpos dos falecidos tal como estão até que as autoridades cumpram a lei , provocam a catalogação de "insensibilidade" porque os tempos fazem-nos jornalistas, por drones e telemóveis, sem crivo. Muito bem o perímetro de segurança. O debate sobre insensibilidade pelos corpos cobertos com lençóis é uma falsa questão.
É evidente que o acidente foi violento e os tombos mortais mas devemos lançar à discussão a situação da lei, dos bons procedimentos e sobretudo de como devemos actuar com a particularidade da nossa orografia acidentada. Há aqui matéria para a próxima legislatura. Somos sempre tão particulares e singulares para tanta coisa mas não na prevenção rodoviária onde adoptamos simplesmente. Falha certamente o Governo Regional nesta matéria. Faltou o cinto de segurança? Creio que sim mas, tal como um muro não seguraria o autocarro desgovernado, os movimentos violentos não foram feitos para o nosso corpo, é por isso que a arma é a prevenção. Está vulgarizado para trajectos turísticos por esse mundo fora, sobretudo o ocidental, o uso de cintos de segurança nos autocarros. A responsabilidade de usá-lo é do passageiro, nalguns sítios o/a guia passa a averiguar se estão colocados, por cortesia, por bom serviço, noutros casos, na sua ausência, é o condutor ou aviso para o efeito que substitui este procedimento. Na Madeira temos trajectos curtos mas uma orografia acidentada. Mais matéria para repensar.
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O cinto de segurança em autocarros é obrigatório nos trajectos de longo curso desde 2005. Num estudo de 2017, levado a cabo pela Mapfre, concluiu-se que só 2 em cada 10 passageiros usam o cinto. Como disse, nalguns países é obrigatório o aviso no início da viagem ficando a partir daí a responsabilidade a cargo do passageiro, noutros o autocarro não parte sem verificação. É evidente que depois manda a cabeça do passageiro e a sua responsabilidade. Em Portugal os autocarros destinados ao transporte de passageiros são obrigados a ter cintos de segurança a partir das homologações de 20 de Outubro de 2006 ou matriculados depois do dia 20 de Outubro de 2007, muito tempo decorreu, estamos em 2019. A necessidade foi sentida com o aumento das velocidades, a eficiência das travagens e a elevação gradual do centro de gravidade com a evolução dos autocarros no seu conforto ou pelas bagageiras de "porão".
Por muito que custe, é necessário o apuramento da verdade para informar, melhorar e proteger o nosso Turismo, no trato a cada indivíduo que nos visita e enquanto actividade económica. É preciso retirar lições, como em qualquer acidente, para melhorar os transportes, a rede viária e a conduta de passageiros e profissionais no transporte de passageiros.
Observei que o tejadilho do autocarro naturalmente cedeu e entre projecção de pessoas e o espalmar do veículo reside muitas causas nas mortes. Volto a frisar que tenho em conta a violência do acidente mas vemos muitos testes de "car crash", raramente se vê com autocarros, naturalmente que existem, mas parece que evoluímos para o conforto mas descuramos a segurança. Sem cinto de segurança, um choque frontal pode ser mortal mesmo a uma velocidade de 20 km/h por testes efectuados com a categoria B. Por outro lado, não será que um autocarro, pela sua extensão e elevação do centro de gravidade, devia ser reforçado?
Um amplo debate é necessário para, no respeito da lei, inserir melhorias tendo em conta a orografia, exiguidade, queda de pedras, velocidade, guardas e rails, periodicidade e tipo de inspecções, segurança ...
Leitura que completa o artigo:
Decreto-Lei n.º 170-A/2014