O Betão Social


"Seremos imunes a pressões ilegítimas ou a interesses setoriais que desvirtuem o nosso dever perante a 'res publica'" estas foram as palavras de Miguel Albuquerque na tomada de posse como Presidente do Governo Regional da Madeira a 20 de Abril de 2015.

Quatro anos depois quase ninguém, nem ele pelos vistos, se lembra do que disse naquele fatídico dia, que se veio a confirmar como o dia de todas as mentiras.

Miguel prometeu romper com o sistema instalado e não o fez. Miguel prometeu apoio social aos mais necessitados e não o fez. E até aquele peremptório “eu não me vendo” na Assembleia Regional foi pouco convincente.

No fim, parece que todos continuamos a nos  esquecer que, ao contrário da Construção, o Turismo é o nosso ouro verde e que estamos a destruí-lo com construções megalómanas sem nexo. A mancha florestal está a diminuir e com ela a natureza e a beleza da ilha, e sem apreço nem agrado, continuamos selvaticamente a construir. Não aprendemos nada com a Marina do Lugar de Baixo?

Alienado da Madeira real, o betão continua a ser o suporte financeiro dos governos PSD. Constrói-se cada vez mais para financiar a política e assim manter o poder. Que esperança podemos ter no Betão? Qual a importância de um novo viaduto? Ou de uma nova estrada? Cada dia que passa há mais betão cinzento na ilha. É isto o progresso? É este preço que temos de pagar pela felicidade?

E o resultado desta insensatez é que os velhos continuam a morrer cada vez mais sozinhos, os jovens entram no mundo das drogas cada vez mais cedo, e o número de doentes à espera de uma cura é assustador num sistema de saúde caótico refém de interesses obscuros.

A Madeira que nos pintam é definitivamente uma mentira.

E da memória daquele dia 20 de Abril de 2015 ficam apenas as palavras de esperança dum homem que  deitou tudo a perder: "Temos que ter uma sociedade equilibrada, sem desfasamentos sociais e onde todos, sobretudo as franjas mais fragilizadas e vulneráveis, mereçam apoio."

As palavras, meu caro Miguel, são como as cerejas: vão umas atrás das outras.

“O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.”

Karl Marx