Testes meios aéreos: distanciamento Lisboa - Funchal

Lisboa testa meios aéreos de combate a fogos na Madeira, sem informar o governo regional


É mais um episódio a revelar o distanciamento entre Lisboa e Funchal. O Governo marcou para a próxima semana a realização de testes de meios aéreos de combate a incêndios, mas não informou nem convidou o executivo regional. A notícia dos ensaios foi dada pelo presidente do PS-Madeira.











O Governo enviou para o Funchal meios aéreos de combate a fogos florestais para a realização de testes que esclareçam se a geografia da Madeira permite ou não a sua utilização em caso de incêndios, como aqueles que fustigaram a ilha em Agosto do ano passado.

Os estudos foram solicitados pelo executivo regional a António Costa, no rescaldo das chamas do Verão de 2016, mas a chegada à Madeira de dois helicópteros apanhou de surpresa o governo da Madeira, que não foi informado nem convidado para os ensaios, previstos para 2 de Maio.

A informação sobre a realização dos testes foi divulgada à imprensa local pelo presidente do PS-Madeira, Carlos Pereira, e consta no site do partido como uma “promessa cumprida” pelo partido. A Quinta Vigia, sede da presidência do governo regional, não esconde o desconforto.

“Esperamos por uma informação concreta por parte do senhor primeiro-ministro, a quem o presidente do governo regional da Madeira escreveu sobre o assunto”, adiantou ao PÚBLICO o gabinete de Miguel Albuquerque, recusando comentar o facto de ter sido um partido da oposição a anunciar os testes.

“O Governo Regional da Madeira solicitou, na decorrência dos incêndios de Agosto de 2016 ao Governo da República a realização de estudos técnicos que possam responder à permanente dúvida de sabermos se os meios aéreos são ou não adequados para o combate a incêndios na Madeira e em que circunstâncias”, acrescentou a mesma fonte, sublinhando que o executivo madeirense não foi “formalmente” informado e “até ao momento” não recebeu qualquer convite para acompanhar os ensaios aéreos.

A única informação de que o governo do social-democrata Miguel Albuquerque dispõe é aquela que vem na imprensa regional e o pouco que sabe sobre os meios que serão ensaiados é pelas imagens dos dois helicópteros AS350 Ecureuil que estão estacionados no aeroporto madeirense, vindos especialmente de Canárias, e de um avião que virá do continente nos próximos dias.

O episódio está a ser encarado pela administração regional como mais uma deselegância de António Costa para com o governo madeirense e vem deteriorar ainda mais as relações entre Funchal e Lisboa. Primeiro, não caíram bem a Albuquerque as dúvidas levantadas pelo Governo sobre a atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao aeroporto. Depois, na véspera da cerimónia, o facto de o primeiro-ministro ter participado em duas inaugurações promovidas pela Câmara Municipal do Funchal, governada por uma coligação de partidos com o PS à cabeça, e para a qual o chefe do executivo madeirense não foi convidado, aumentou esse mal-estar entre os dois governos.

Mas este último caso merece ainda mais censura da parte do governo madeirense. Os testes vão contar com a presença do secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, e de elementos da Autoridade Nacional de Protecção Civil e coincide com a presença na região da direcção da bancada socialista em São Bento, que vai realizar uma reunião no Funchal.

Mas este último caso merece ainda mais censura da parte do governo madeirense. Os testes vão contar com a presença do secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, e de elementos da Autoridade Nacional de Protecção Civil e coincide com a presença na região da direcção da bancada socialista em São Bento, que vai realizar uma reunião no Funchal.

Quanto às autoridades regionais ficam, para já, de fora. “O que sabemos, sabemos pelos jornais”, frisou ao PÚBLICO a secretária regional da Inclusão e Assuntos Sociais, Rubina Leal, que tem a tutela da Protecção Civil na Madeira, lembrando que o executivo madeirense pediu a 10 Agosto do ano passado um estudo sobre a avaliação da viabilidade de utilização desses mesmos meios aéreos no arquipélago.

Dentro do governo, a politização deste tema – tal como aconteceu com o novo hospital, que Albuquerque queria que fosse considerado Projecto de Interesse Comum beneficiando assim de um apoio na ordem dos 80%, e acabaram por ser os deputados do PS-Madeira em Lisboa a fechar um financiamento de 50% -, é vista como uma tentativa do primeiro-ministro de interferir na política regional.

Estranha, por isso, a coincidência de os ensaios aconteceram na mesma altura em que o grupo parlamentar socialista está na Madeira, numa visita de três dias que incluiu a participação nas comemorações do 1.º de Maio, reuniões com sindicatos, uma visita ao hospital e uma ronda pelos locais afectados pelos últimos incêndios.

Link da Notícia do Público