JM - Jornal do Miguel



Antes tínhamos o Jornal da Madeira, folha que cheirava a incenso mas que tinha um diabrete, como o Lúcifer Belzebu, a azucrinar a paciência e neste caso a inteligência das pessoas recontando vezes sem conta a realidade à sua maneira, o que nos leva a dizer que tinha um subtítulo impresso a tinta invisível onde constava "A Folha do Alberto", diminutivo de "A folha de couve de Alberto João Jardim".

Tudo foi perdurando enquanto houve dinheiro e o Jornal Dependente somava perdas de leitores, publicidade e idoneidade enquanto o tempo passava mas, como era a Folha do Alberto sempre aparecia o auxílio financeiro descarado ou encapotado para salvar a situação.

O que matou o Jornal da Madeira foi querer ser o Povo Livre disfarçado, com o Chefe de Redacção Alberto João Jardim a dar o mote e a maior parte dos jornalistas a mostrar qual o que melhor sabia lambuzar de forma credível. Nisto tudo havia queridos e considerados de outros odiados, talvez por aí se consiga ver nos nossos dias quais eram, pelos tachos alcançados à sombra do funcionalismo público onde alguns nem aparecem ao trabalho, os remediados e os desgraçados.

Também havia os escribas vassalos, curiosamente assalariados, o que confere sem dúvida indícios de nepotismo na família social democrata e de ditadura numa imprensa livre que assegurava a pluralidade, diziam.

O Jornal foi e é uma Madeira financeiramente politizada em ponto pequeno. O disfarce assume o gosto do folgazão, seja ele Miguel Albuquerque ou Sérgio Marques depois de Alberto João, sempre com o nosso dinheiro para atingir o mesmo fim. A Renovação já nos habituou a não ter qualquer inovação, até as rimas saem fracas com tamanho pastelão. Se antes era um título da igreja tomado pela política, fingindo-se credível com páginas a metro de religião com a política ao pé para ser credível e financiado pelo erário público, agora é um jornal e uma rádio oferecidos a privados para dar um ar de pluralidade e compromisso com uma promessa. Financia pelos novos donos que por sua vez recebem indirectamente financiamento do Governo Regional. Basta ver as únicas publicidades "sérias" ao estilo paragonas que vão constando.

Mas isto não chega para mostrar que está igual, apesar dos jornalistas e comentadores escolhidos a dedo, vamos observando os fretes ao estilo Estudo de Opinião da Ponta do Sol, à pressão sobre qualquer vínculo de trabalho que deve "agir em conformidade" com o quanto baste da política e as vénias aos proprietários, gente de sucesso por prevaricarem com inúmeras regras de mercado, os eternos "adjudicados directos".

Viva a Madeira Livre, com o Correio da Madeira. Escreve-se sem lápis azul, os censores e ascensores
aqui são perseguidos e a piada não é selectiva mas abrangente. O JM contínua turvo, apesar de mais leve, num negócio da China que pela força da necessidade incute o comportamento politicamente correcto, uns para acesso ao ordenado outros para o financiamento chorudo, compromisso de levar a desgraça.

Quando vier um novo Governo Regional de alternância, as mamas acabam, pressupomos porque a tentação é grande, e veremos quanto tempo dura um sorvedouro de dinheiro público. Independentemente do papel de oferta, o "presente" é o mesmo e as "crianças" são exigentes com seus brinquedos. Brinquem felizes.



O jornal estende sobre o mundo as suas duas folhas, salpicadas de preto, como aquelas duas asas com que os iconografistas do século XV representavam a Luxúria ou a Gula: e o Mundo todo se arremessa para o jornal, se quer agachar sob as duas asas que o levem à gloriola, lhe espalhem o nome pelo ar sonoro. E é por essa gloriola que os homens se perdem, e as mulheres se aviltam, e os Políticos desmancham a ordem do Estado, e os Artistas rebolam na extravagância estética, e os Sábios alardeiam teorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os géneros, surge a horda ululante dos charlatães ..."
Eça de Queirós in "A correspondência de Fradique Mendes"