Aconselhamos vivamente a visita a esta publicação de Mário Camacho:
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Contrato do Ferry para 2020 oficialmente rescindido. O armador anuncia prejuízo de 1.9M só este ano. Vamos a contas? (Aviso: publicação longa)
Fotos: © Mário Camacho e Ruben Câmara ®
Dado que me apanhei com algum tempo livre neste início de tarde, decidi entrar um pouco a detalhe pelos números que envolveram a operação do VOLCAN DE TIMANFAYA este ano, muito de 'mansinho' e sem tirar partidos. Sem muitas delongas, entremos pelo que mais interessa.
Não esquecer que a linha possui um subsídio atribuído na ordem dos 3 milhões de euros por ano. Portanto as contas começam-se a fazer nos 3 milhões, e não do zero. O VOLCAN DE TIMANFAYA efetuou 24 trajetos, que consistem em 12 viagens ida e volta, Funchal - Portimão. Para este "artigo" deixei de fora as viagens para Canárias e na parte dos veículos, deixei de fora os quatro autocarros elétricos da HF (Karsan electrified by BMW i) e as viaturas do Rally, que também foram transportadas pelo ferry, por não se ter a certeza que contornos ou hipotéticas benesses poderão ter beneficiado estes transportes (eventuais descontos ou considerações). Ter ainda em conta que quando menciono viaturas, já incluo todo o tipo, desde motos a carga viva, veículos ligeiros, mercadorias, pesados ou autocaravanas, pois não conseguiria precisar exatamente quantos de cada tipo vieram em cada viagem.
Aqui ficam alguns números que consegui reunir através de relatos de bordo, das viagens. Algumas delas não consegui dados, pelo que se alguém os tiver e quiser acrescentar, esteja à vontade.
8 de julho: 428 passageiros e 140 viaturas IDA
10 de julho: 471 passageiros e 170 viaturas VOLTA
24 de julho: 540 passageiros e 193 viaturas VOLTA
29 de julho: 680 passageiros e 176 viaturas IDA
31 de julho: 696 passageiros e 183 viaturas VOLTA
5 de agosto: 739 passageiros, 197 viaturas IDA
7 de agosto: 760 passageiros, 200 viaturas VOLTA
12 de agosto: 786 passageiros, 220 viaturas IDA
14 de agosto: 703 passageiros, 190 viaturas VOLTA
19 de agosto: 720 passageiros, 187 viaturas IDA
28 de agosto: 698 passageiros, 231 viaturas VOLTA
4 de setembro: 711 passageiros, 240 viaturas VOLTA
TOTAL: 7932 passageiros, 2327 viaturas em 12 trajetos (com dados)
MÉDIA: 661 passageiros, 194 viaturas por viagem
Não encontrei dados:
15, 17 e 22 de julho
21 e 26 de agosto
2, 9, 11, 16, 18, 23 e 25 de setembro
Tenhamos em conta que um passageiro residente na ilha da Madeira, e seguindo a tabela oficial de preços, pagaria 29,10€ por trajeto, num total de 58,20€ ida e volta. Já um cidadão não residente na ilha da Madeira teve de desembolsar 85 euros por trajeto, 170€ ida e volta. Isto em poltrona, desconsiderando camarotes, para as contas ficarem-se sempre por valores 'mínimos' e não subirem a irrisórios e irrealistas. Mas um Camarote Duplo Exterior, para termos noção do que aqui desconsideramos, custaria quase 150 euros por trajeto a um residente, e 374€ a não residentes. Mas deixemos de fora disto.
Destes 7932 passageiros, é-me impossível determinar quantos eram residentes e não residentes, mas teremos de definir um número estimativo. A procura por parte, especialmente, de continentais e estrangeiros era bastante alta, portanto, vá lá, para não exagerar muito na conta final (não vá alguém assustar-se!) que 70% destes tenham sido residentes, os restantes 30% não residentes. 70% do número resulta em 5552 passageiros residentes e 2380 não residentes. 5552 residentes X 58,20 (preço ida e volta poltrona) resulta em 323 126 euros, e 2380 não residentes x 170 resulta em 404 600 euros. Portanto, relembro, fazemos estimativas por baixo, logo, se toda a gente viajasse de poltrona e ignorando os camarotes, estamos a falar de 727 mil 726 euros, isto só para os passageiros.
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Vamos aos veículos. Em anexo, algumas fotos de carga 'especial'. Atenção, não foram só estes. Foram muitos mais, autocaravanas então, nem se fala, mas aqui ficam alguns que foram registados. Tenhamos em conta que estas fotos são todas elas de desembarques no Funchal. Vamos à tabela de preços?
Para a classe C5, pesados de mercadorias e passageiros, o preçário para uma viagem Portimão - Funchal menciona 1716 euros de custo (quase 6x mais do que Funchal - Portimão!). Para a classe C7, autocaravanas, uma viagem no mesmo sentido custa 810€. Ligeiros custava 315€, Motociclos com duas rodas 218€. Ligeiros de mercadorias, 715€.
Nas fotos em anexo e a menos que tenha ocorrido algum lapso ao colocar as fotos, contam-se 8 pesados, entre mercadorias e passageiros. 2 ligeiros de mercadorias, 2 autocaravanas. Pequeno, certamente. Ora bem, 8 pesados x 1716€ dá 13 728€. Tenho conhecimento que pelo menos um destes pesados fez uma viagem no sentido contrário, que custa 360€, portanto ficamos com 14 088€. Com toda a certeza vieram mais pesados, mas fiquemo-nos, para esta matemátiva estimativa, só com estes, não vá o 'bolo final' assustar alguém.
727 726€ (total passageiros) + 14 088 e ficamos com um total de 741 814€.
Do total de 2327 viaturas naqueles doze trajetos de que obti dados, a esmagadora maioria era de ligeiro porte, e novamente, teremos que definir um número estimativo. Vá lá, que 90% destes sejam ligeiros. 90% de 2327, 2094 viaturas. 2094 x 315€ resulta em 659 mil 610 euros. Restam 233 viaturas, e, novamente, estimando por baixo, no mínimo dos mínimos garanto que, e para arredondar os números pelo menos 33 foram autocaravanas, pois o que não falta são fotos destas a desembarcar no Funchal. 33 x 810 resulta em 26 mil, 730 euros. Imaginemos que dos 200 que restam, 10 eram ligeiros de mercadorias. 10 x 715€, outros 7 mil 150 euros. Se os 190 que restam eram motorizados de duas rodas, 190 x 218€, resulta em 41 mil, 420 euros. Certamente haverá outro tipo carga que não apenas as que discrimino, pois recordo-me de um desembarque de pelo menos um cavalo, e poderá haver certamente mais autocaravanas, mas recordo uma vez mais, contas pelos números mais pequenos possíveis.
Estão a acompanhar?
41 420 de motas.
7150 de ligeiros de mercadorias.
26 730 autocaravanas
659 610 veículos ligeiros
741 814 total passageiros + pesados
Somando tudo?
1 milhão, 476 mil, 724 euros. 1 476 724€.
Tenhamos em conta que nem sequer contabilizamos as despesas dos passageiros abordo nomeadamente no bar e restaurante, nem o transporte do rally e 4 elétricos HF, nem os camarotes que vieram sempre esgotados, e que fizemos sempre contas pelo mais baixo possível, para não falarmos de números irrealistas. Arredondemos para 1 milhão e meio. A somar aos 3 milhões de subsídio, dá 4 milhões e meio. Contas fáceis de fazer.
Será que esta ligação era para funcionar? Tenhamos ainda em conta que o ferry transportou, desde finais de julho a inícios de setembro, sempre mais do que deveria, mais passageiros do que poltronas disponíveis, levando a um desconforto abordo, obrigando muitos passageiros a dormirem no chão e terem uma experiência negativa abordo. A título de curiosidade, trailers com autopropulsão rumo ao Funchal custavam 2288€, preços proibitivos a transporte de carga, certamente. A discrepância de preços entre residentes e não residentes ou, ainda mais inexplicável, entre carga Funchal - Portimão e Portimão - Funchal (em certos casos, quase 6 vezes mais caro de lá para cá!). O constante bombardeamento de notícias negativas em relação à ligação por parte dos meios de comunicação locais, que nem sequer vou dar o privilégio de os mencionar, desmotivando as pessoas em relação ao 'Armas' e convencendo os mais distraídos que isto, de facto, não presta. Alguém, dos que realmente "importam" para fazer acontecer, quis, realmente, que a ligação funcionasse?
Ora, se o armador alega que este ano o ferry deu prejuízo de 1,9 milhões, significa que o VOLCAN DE TIMANFAYA, de alguma maneira, gastou quase 6 milhões e 500 mil euros em combustível, taxas portuárias e despesas de staff. Em apenas... TRÊS MESES. Parece-me um valor algo irrisório, especialmente tendo em conta que, segundo fonte fidedigna, Ship & Bunker, o preço do combustível IFO380, utilizado pelo Volcan de Timanfaya, está, a uma média de 260 euros por tonelada, na Europa, no dia de hoje. Se destes 6 500 000, 85% fosse só para combustível, 85% sendo 5 525 000, e que o restante milhão tenha ido para despesas relativamente a pessoal de bordo e taxas portuárias, 5 milhões e meio a dividir por 260 euros, resulta em 21 mil 154 litros. Isto se fosse o armador a pagar a totalidade do combustível. No entanto, o Governo de Espanha subsidia parte do combustível dos seus navios ferry, mas façamos de conta que esse subsídio não existe. Estão a dizer-me que o 'Armas' consumiu mais de 21 mil toneladas de combustível em 3 meses? Tenhamos ainda em conta que o ferry apenas era fretado por quatro dias, operando os restantes 3 da semana pela Armas, nas Canárias, logo estes valores de combustível estarão certamente exagerados.
As conclusões deixo para cada um tirar por si. Da minha parte, só digo, a mim ninguém me atira areia aos olhos. Da mesma maneira que se diz "não se acredita em tudo o que se vê na internet", sugiro que não se leve como verdade absoluta tudo o que é publicado nos meios de comunicação social, pois, em pleno século XXI, estes são utilizados para manipular as mentes mais fracas e influenciáveis. Não quero, de todo, influenciar o pensamento de seja quem for e peço desculpa se aborreci alguém, apenas digo: Façam a vossa mente por vós mesmos e tomem as vossas próprias conclusões. A conclusão que tiro para mim é que, a mim, ninguém me atira areia aos olhos.
Por fim, e se alguém leu até aqui, um agradecimento ao amigo Ruben Câmara por ter disponibilizado as fotos e um grande abraço de parabéns, pois foi sem dúvida, dentre os entusiastas de navios mais 'aguerridos', o entusiasta + desta operação, este ano, estando lá, junto ao navio, mais vezes do que outro qualquer, por vezes até debaixo de chuva. O mesmo elogio para o Marco Andrade, por toda a sua disposição a efetuar os timelapses que fez, coisa que a meu ver é extremamente necessária para que os mais distraídos abram os olhos, além de mostrar toda a azáfama da melhor maneira. O meu bem haja a todos e quaisquer uns que lá estiveram, a 'fazer força' pelo ferry, seja de que maneira for.
O meu muito obrigado a quem acompanhou o raciocínio e aqui chegou.