Verde que te quero verde …

Andam verdes, de raiva, os políticos desta ilha. Muitos dos políticos desta ilha são verdes. Falta-lhes qualquer coisa para serem qualquer coisa na política. Daí serem verdes. Há partidos dos verdes e partidos verdes. Há gente que se junta pelo povo e este, verde nas intenções, leva-os ao poder.

A revolução verde na ilha começou nas terras dos gauleses de Santa Cruz e descendo da montanha ao vale arrasaram no laranjal concelhio e tomaram conta do poder local.

Verde é sinónimo de ingenuidade e a ingenuidade na política tem custos. E munidos de toda a verdura do mundo quiseram mudar o mundo e o mundo continuava ensolarado e o sol, que é laranja, queima tudo e o verde vai secando e vai ficando desbotado.

Aeroporto a pagar IMI? Parque Industrial da Cancela a pagar IMI? Verdura a mais na ideia de ir buscar receita para o concelho! E como não conseguiram vai daí e aplicaram uma Taxa de Turismo para conseguirem o desiderato da receita.

“Verdes são os campos / de cor de limão”, escreveu o vate. E do limão se faz poncha e de duas ou três ou mais ponchas se faz a inspiração e da inspiração se faz a política. Esverdeada ou alaranjada. “… de cor de limão / assim são os olhos / do meu coração”, prossegue Camões. E se os olhos do coração são verdes não se vota laranja porque o coração tem olhos e sabe que é tempo de mudar. E foi assim que aconteceu.

Verdes de esperança para que a coisa da sua causa e a causa das suas coisas frutificasse e julgando-se amadurecidos, porque tudo o que verde é maduro será, passaram a partido.
Atirar verdes para apanhar maduras, diz o povo. E os manos que estavam juntos pelo povo passaram a estar juntos pelo partido e passaram a atirar verdes para apanhar maduras As maduras que foram caindo e caem das árvores. Das laranjeiras, que há muitas laranjas a desprender-se da árvore-mãe.

Verde que é, o edil de Santa Cruz aburguesa-se e vai pintando de laranja certos tiques pessoais. Com que então placas de inauguração de hamburguerias non stop “Dr.” Filipe Martiniano Martins de Sousa? Com que então assistir aos jogos do Club Sport Marítimo no camarote presidencial do Estádio dos Barreiros entre ex-secretários regionais, ex-deputados laranjas, diretores regionais, o atual secretário-geral do PSD, atuais deputados laranjas, barões da construção civil, empresários pujantes e empresários insolventes e demais tubarões do antigo regime e do atual regime? Croquetes, chamuças, folhados, rissóis, enchidos e fumados, queijinhos, pãezinhos vários, atum de escabeche, carne de vinho e alhos, bebidas brancas e vinho tinto e branco, suminhos e águas e meninas lindas em seu uniforme azul e faixa verde e vermelha na cintura delgada que mais parecem hospedeiras da TAP que da ilha fugiu em vez de acompanhantes, dos convidados ao respetivo lugar, entenda-se. Pois é, os verdes a ficarem rubros. Quase de vergonha. “Se os outros fazem porque não fazemos nós”, não é senhor presidente verde? E os laranjas a ficarem verdes. De raiva com tão distinta presença do presidente Junto Pelos Petiscos no estádio.

Verde que te quero verde. “Campo, que te estendes / Com verdura bela; / Ovelhas, que nela / Vosso pasto tendes”, continua a trova de Luís Vaz. Andam os alaranjados do concelho à espera que Roque Santeiro, que saltou da TV para o terreno da política como bem se lembram, volte a reunir as ovelhas tresmalhadas que se renderam às virtudes dos verdes. Dizem que este Roque Santeiro tem pedigree e que foi por via de valente trancada que foi escolhido para a incumbência de reduzir o impacto verde no concelho. Reduzir o impacto verde é crime ambiental e o presidente verde Junto Pelo Poleiro, muito dado à denúncia de todos os crimes, não vai deixar que tal crime ocorra.

Verdinhos lhes chamam os laranjas, mormente, que é advérbio que qualquer político gosta de usar,  e por isso, por serem verdes, os acusam de meterem amiúde a pata na poça e se meterem a escandalizar o povo. Irritam-se os laranjas com o dinheiro gasto pelos verdes com advogados por exemplo. Verde é a argumentação verde de que assim teve que ser para limpar as consequências da política do acordeão e das cantigas de Natal.

Está bem senhores verdes… Vai bonito o mandato nestes quase quatro anos mas… e a obra senhores? As grandes obras, entenda-se? Então foi só pagar dívida? E coisas concretas? Nada? Coisas de jeito, daquelas que se vejam! Chega de alcatroarem meia dúzia de metros em caminhos e veredas.



De música percebem também os verdinhos, que os manos já tiveram conjunto musical, e por isso lá vem Camões outra vez. “De ervas vos mantendes / Que traz o Verão, / E eu das lembranças / Do meu coração.” Os verdes a manterem as ervas verdes pelo concelho e os laranjas a lembrarem-se das lembranças do seu coração no poder autárquico e sem saberem ser oposição sentem-se órfãos para a reconquista do poder e, talvez por isso, foram sacar um santeiro, roque santeiro lhe chamam, ao museu e trazê-lo para a ribalta na esperança que faça o milagre da multiplicação os votos nos laranjas.

“Gados que pasceis / Com contentamento, / Vosso mantimento / Não no entendereis;/ Isso que comeis / Não são ervas, não: / São graças dos olhos / Do meu coração.” Apascentem com contentamento o vosso gado e continuai a enganar s vossas ovelhas, Juntas Pela Patuscada que o que comem não são ervas não, são as graças dos olhos, enganadores, do vosso coração, em sobressalto.

“Verde que te quero verde. / Verde vento. Verdes ramas. / O barco vai sobre o mar / e o cavalo na montanha”. Cantava Lorca no Romance Sonâmbulo. Sonâmbulos parecem andar os verdes em Santa Cruz enredados e Juntos Pelas Promessas. Com a época de caça ao voto à porta não vão faltar argumentações esverdeadas para as não ações até agora e promessas de que para o ano é que é. E então vão estar todos Juntos Pela Pontaria para caçar incautos, que de tão verdes não enxergam que o mandato foi na verdade Juntos Pelos Próprios, ou caçar desencantados das laranjas “renuvadas”, que postas a nu apodrecem e ficam esverdeadas de bolor.

Tudo ponderado, ainda assim, temos os humildes gauleses contra o arrogante romano.


Vai interessante a lide em Santa Cruz entre um Partido Sob Descrédito, ou será um Partido Sem Dinheiro, e um partido Junto Pelas Promessas. Ai, ai, verdes que não vos querem laranjas… 
O Reino dos Céus é intemporal e imaterial, enquanto a humanidade
perde valores nós amealhamos. Hoje não me cito, permitam as palavras sábias de
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim”:
Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear".