Os meios de comunicação social da Madeira estão cada vez mais parecidos com autênticas joalharias, tal a profusão de pérolas com que nos brindam amiúde.
A quantidade de pérolas jornalísticas que brotam nos media (leia-se média, palavra latina plural de medium, e não mídia como os prolixos jornalistas locais gostam de dizer) é de tal ordem que o Correio da Madeira está a pensar aumentar significativamente a equipa de catadores de pérolas na imprensa local.
O DN, mas não só, tem uma autêntica elite de especialistas na transformação de alguns escritos em autênticas pérolas. Na edição de domingo, 3 de junho, o DN, pelos dedos, que isso da pena já lá vai, de Orlando Drumond, oferece-nos, a propósito d e um voo especial da TAP, o seguinte texto:
“… proporcionou uma experiência imersiva de regresso ao passado para todos quantos tiveram oportunidade de desfrutar da magnífica viagem para a também conhecida “Pérola do Índico”.
Das duas, ou 1) o jornalista, quiçá assoberbado em pleno afã para despachar a matéria a tempo para a redação, comeu parte do texto e quereria referir-se ao facto de que no tempo colonial a TAP viajava para Moçambique, a “Pérola do Índico”, com a mesma decoração do avião que fez o voo, apelidado de “retro”, do passado sábado; 2) o jornalista nem sequer sabe a localização geográfica da Madeira, a região onde vive, e “botou-a” em pleno Índico, ao invés do Atlântico.
A teoria da conspiração diz-nos que o jornalista está a soldo de uma obscura organização secreta que quer diminuir a importância da Madeira, deslocalizando-a, empurrando-a para o Índico. Por outro lado a teoria da inspiração diz-nos que o jornalista está a soldo da corrente ultraprogressiva da Renovação que traz a Madeira em cósmico progresso há cinquenta e muitas semanas. Ao localizar a Madeira na região do Índico coloca-a ainda mais longe da Europa, ali mesmo pertinho de Maiote e Reunião, territórios ultramarinos franceses, tornando a Madeira ainda mais RUP, isto é RUUP, região ultra-ultraperiférica da UE e com isso passar a receber ainda mais fundos europeus.
Sabe-se que, às vezes, quando se escreve sobre festas ainda em cima desse momento tolda-se a mente com certos eflúvios com que brindam em ambientes “retro” e outros que tais.
Nós por cá também adoramos coisas “retro”, tipo retroescavadora, para escavar as pérolas que emergem nos media locais. Não tarda muito e serão os escrevedores dos media que amuam connosco e acham que nós é que somos incultos pois estão a dar pérolas a porcos. Por nós, que chafurdamos na sua escorreita (ou será escorregadia?) escrita estamos sempre agradecidos pelas pérolas.
Com que então a Madeira com o epíteto de “Pérola do Índico”?! E ao CM é que acusam de fazer fake news! Ainda bem que o articulista do DN não se referiu à Madeira como a “Singapura do Atlântico”, porque com a livresca cultura que possui ainda lhe saía “Chunga Pura do Atlântico”. Ou do Índico …
Decidi descansar a cabeça, estas pérolas deixam-me tonto.