Derrotado nas diretas de 2012 por Jardim com 49% dos votos, Miguel Albuquerque ficou para a história como o primeiro militante em 40 anos que desafiou o poder totalitário de Jardim dentro do PSD-Madeira.
Dois anos depois, e já sem Jardim, e no resultado de numa primeira volta das eleições internas para presidente da comissão política do PSD-Madeira ter praticamente aniquilado todos os seus opositores, Miguel Albuquerque não perdeu tempo a negociar com Sérgio Marques, Miguel Sousa e Jaime Ramos, os apoios necessários à centena de votos que lhe faltava para ganhar a maioria.
Infelizmente a memória das pessoas é curta e volátil, e por isso poucos devem lembrar-se que Miguel Albuquerque não se cansou de afirmar que a sua vitória seria “o sinal de que os militantes querem a mudança” e que com ele o PSD-Madeira “nunca mais será um partido de pensamento único”.
E foi com este discurso liberal que numa segunda volta, mas já sem glória, que Miguel Albuquerque bateu com 64% o seu único adversário político Manuel António.
E Miguel Albuquerque, no rescaldo da sua vitória, não se cansou de continuar a apregoar que “quero que o PSD-Madeira seja um partido aberto, plural, onde cada um possa exprimir as suas opiniões” e que “só um líder fraco tem medo do pluralismo interno”, referindo-se entre linhas a Jardim.
Sem perder muito tempo, Miguel Albuquerque quis logo impor a renovação prometida, e ainda embriagado pela vitória, não demorou a afirmar que politicamente a “fórmula de Jardim estava esgotada” e acrescentou que “a estratégia do inimigo externo está morta”.
Alguns meses depois, e já nas últimas Regionais, que se realizaram a 29 de março de 2015, onde a abstenção foi de 50,3%, isto é, dos 256 775 eleitores recenseados votaram menos de metade. A abstenção foi um sério aviso do descrédito dos madeirenses no que respeita à política e à renovação prometida por Miguel Albuquerque.
Para quem ainda se lembra, essas últimas eleições regionais foram, no mínimo, atípicas e surreais. A primeira decisão é que o PSD tinha perdido um deputado e a maioria absoluta de 24 deputados para a CDU. Em poucas horas houve de tudo, desde um erro informático que ignorou os votos do Porto Santo a falhas de comunicação de resultados das mesas eleitorais para depois concluir-se que o PSD afinal obteve a maioria absoluta devido a cinco votos considerados nulos na CDU. E o mais estranho disto tudo - e nem a CNE percebeu porquê - a CDU era o partido com mais votos nulos contabilizados.
A entropia e o descalabrado da contagem dos votos das últimas eleições regionais de março de 2015 foi de tal ordem que a Comissão Nacional de Eleições confessou que foi um “erro crasso e indesculpável”. Esperemos portanto que não se repita mais.
Um ano depois, e quando o Governo lhe começou a correr mal, e perante o risco da oposição interna se tornar insustentável, Miguel Albuquerque recorreu ao seu arqui-inimigo, deitando por terra tudo o que prometeu e defendeu.
E é este homem, que depois de ter dito tudo o que disse, e nas condições em que ganhou as eleições de 2015, vem agora dizer que, “quer queiram, quer não”, quem manda é ele porque foi mandatado pelo povo? Miguel Albuquerque parece ter-se esquecido que o seu mandato deve-se unicamente a cinco míseros votos nulos na CDU, e que assim sendo, o povo não o mandatou para coisa alguma.
É sem dúvida o regresso do quero, mando e posso(*) da democracia de Jardim!
"É pena que todos aqueles que se dizem democratas, na prática não respeitem o jogo democrático e as posições partidárias diferentes das próprias"
Francisco Sá Carneiro
(*) trocadilho de "Eu quero, posso e mando"