O fim do jornalismo?



Sou leitor assíduo de alguns jornais internacionais e nacionais, mas como madeirense que sou, dou mais atenção ao pouco de bom que se escreve por cá.
Reconheço que deve ser difícil de escrever, o que nos vai na alma e na mente, quando dependemos de um ordenado ao fim do mês para sobreviver. Reconheço igualmente que valores mais altos podem subjugar a integridade daqueles que nos trazem as notícias pelo sabor do café da manhã, manietando a liberdade de informação e de opinião.
Ninguém pode ignorar que a sobrevivência de um jornal depende dos patrocinadores, isto é, do dinheiro que entra para pagar os custos de funcionamento, os ordenados e porventura dar lucro aos investidores, mas não é aceitável que um jornalista mude de opinião, ou escreva algo contrário às suas convicções por estar pressionado pela chantagem do fim de um qualquer contrato publicitário.
O poder da escrita massifica-se e a ética jornalista caminha para a banalização, e hoje, qualquer pessoa, bem ou mal, escreve e publica as suas ideias no mundo global da internet anónima e ainda ganha uns dinheirinhos no Adsense da Google.
E perante isto os maus jornalistas limitam-se a apontar o dedo acusatório aos bloggers. É preciso acordar do sonho e convencer-se que depois do Fast Food temos o Fast News. Nos tempos que correm já ninguém quer ler literatura em textos longos e bem construídos. Uma foto burlesca de um acidente grave, que inclua sangue, propaga-se mais rápido na internet, e em maior escala, que qualquer notícia de jornal.
As redes sociais e os blogs podem matar o jornalismo tal como o conhecemos, mas cabe aos verdadeiros jornalistas evoluirem e mentalizarem-se que não é vendendo a alma ao diabo que garantem a sua sobrevivência. Pelo contrário, se as noticias forem credíveis e honestas terão um maior universo de leitores e consequentemente os apoios publicitários necessários à sobrevivência. É preciso dar a volta fazendo com que o "inimigo" que a toda hora ameaça a facturação tenha que beijar a mão por necessidade de propagação das suas ideias num veículo isento e de grande penetração na sociedade por ser idóneo e verdade na sobriedade. Se as massas conduzirem os destinos estarão perdidos, agora têm o mundo na mão através das redes sociais. O que é preciso é liderar a opinião, dizer o que não se disse, surpreender e ter condições para o jornalismo de investigação mas sobretudo criatividade para uma receita diversificada e não dependente de clientes âncora da viabilidade financeira.
Lembram-se do semanário SOL, que a partir do momento que Isabel dos Santos entrou no Capital Social, deixou de produzir notícias sobre Angola? Com a censura instalada, em pouco tempo perdeu toda a credibilidade, e sem leitores rapidamente atingiu a situação de risco de falência.
Como o avanço tecnológico, a ruidosa máquina de escrever foi substituída pelo silencioso computador, e o papel, pela internet, mas o cérebro e o livre arbítrio deve manter-se vivo porque isso não tem preço. E no pior cenário, os bons jornalistas, tais como os Homens, morrem de pé e não se vendem!
Sintam orgulho em Watergate!