A gestão de camas na Madeira não se faz por ponderação e ajuste ao mercado na comunhão da célebre lei da procura e da oferta. Muito menos num crescimento sustentável que observe o que temos para oferecer ou inovar e o que anda o turismo à procura. Se isto fosse observado estaríamos mais capazes de ajustar o destino a um preço que satisfaça clientes e empresários hoteleiros. A larga maioria avança com projectos por permissividade política e oportunidade financeira com origem em esquemas ou apoios.
A oportunidade de construção na maior parte dos hotéis não segue uma estratégia e o estudo dos fluxos não servem para nada. No caso do Savoy temos um enorme mamarracho em vez de dois ou três de menor dimensão para tipos de turistas diferentes, protegendo a paisagem e respeitando os outros que não tiveram artifícios políticos.
Um turista rico não usa só o 5 estrelas e companhias de bandeira. Um rico pode ter formação para contemplar o único e singular, preferir o "cozi" longe de grandes aglomerados. Chegamos a um ponto onde se pode dizer que tal como no caso dos cruzeiros, os patos bravos preferem os mamutes aportando em destinos massivos enquanto os lobos do mar preferem os navios mais pequenos que vão a destinos singulares. Patos bravos não se iludem com a Madeira, felizmente, mas por outro lado optamos por massificar e é agora que a impensada estratégia vai dar para o torto.
Os "geniais mentores" do sucesso nos números no turismo ultimamente, assentes na conjuntura de insegurança na bacia mediterrânica e no divulgador Ronaldo, ficaram mancos de uma perna. Activaram-se por preços "de chuva" e mais segurança vários mercados concorrentes. Comparam-se preços e, na maioria, por garantia de sol e decide-se.
Os números do turismo na Madeira estão a descer, estima-se que por agora se registe -5%, e o Savoy ainda não abriu. Empiricamente decrescemos por desvios de fluxo de turistas e o desaconselhamento nas agências estrangeiras pelo preço ou pelas confusões no nosso aeroporto. Uma agência se aconselha mal herda os erros ou vicissitudes da Madeira. Têm que ser honestos com o seu cliente. E aqui coloca-se a questão de que o GR esteve entretido a fazer política mas ainda não tem plano de contingência que, basicamente é um serviço alternativo e um bombom que se dá quando algo corre mal.
Se o Savoy ainda não abriu, não esquecer que mais unidades vêem a caminho, desde logo um novo mamute no ex terreno das hortas na Monumental. Concentra-se o alojamento sempre no mesmo segmento já sobrecarregando, sabe-se lá como, um problema premente no saneamento básico.
Na praça, comércio da baixa e nos centros comerciais (ainda na moda) reflectem com apreensão o novo centro comercial e centralidade do Savoy. Os restaurantes à volta que esfregavam as mãos já perceberam que serão marginalizados porque quem investiu ... investiu para si e não para os outros. As unidades hoteleiras de menor dimensão e estrelas receiam, incapazes de sobreviver a um dumping. A Associação de Promoção de geniais promocionais está impotente e calada. Depois do circo e da mentira aparece sempre a factura. É sempre a mesma loucura, compram-se silêncios e aprovações, combate-se com mentiras, está feito e ninguém deita abaixo, continuamos errantes a destruir o nosso turismo. Precisamos de força no poder político, não vislumbro nada a breve trecho. Temos vários limites, há que compreendê-los, desde logo que somos ilha manietada pelos transportes e lobbies.
Pelo trabalho imenso que se chama «Caminho da virtude,» alto e fragoso. Mas no fim doce, alegre e deleitoso."
Luís Vaz de Camões