Em resultado da Aluvião de Fevereiro de 2010, que provocou meia centena de mortos, centenas de desalojados, e avultados danos materiais, a frente mar do Funchal ficou atolada com mais de 100 mil metros cúbicos de inertes resultado da fúria dos caudais das ribeiras.
O então amigo da Madeira, José Sócrates, primeiro-ministro, do Governo do Partido Socialista da altura, perante a avaliação de prejuízos estimada em 1080 milhões de euros criou à pressa para João Jardim uma Lei a que chamou de Lei de Meios.
Alberto João Jardim, com a garantia de dinheiro na mão, não perdeu muito tempo em decidir o destino do dinheiro e alegando que seria um custo insuportável para a Região, decidiu manter o aterro e construir, segundo ele, algo que valorizasse a Cidade do Funchal.
E foi assim que 70 milhões dos 1100 milhões de euros da Lei de Meios, que inicialmente eram para a reconstrução das infraestruturas danificadas e para apoio às vítimas do 20 de fevereiro, foram desviados para toda a frente mar do Funchal.
A ideia megalómana incluía a fusão das duas Ribeiras - que na altura causou muita apreensão e contestação nos meios Académicos e Científicos - uma Praça, uma Marina (mais uma) e um Cais acostável para navios de cruzeiros. E foi assim que nasceu o famoso CAIS 8.
Miguel Albuquerque, o então presidente da Câmara do Funchal, e o seu Vereador do Ambiente Costa Neves reagiram contra os projetos da fusão das ribeiras e da betonização da costa do Funchal, o que veio agonizar o mal-estar entre Miguel Albuquerque e Jardim. Em alternativa, a Autarquia do Funchal preconizava ser mais importante investir 42 milhões de euros na ampliação de 400 metros do atual molhe da pontinha de modo a proteger a baía e aumentar a oferta turística dos cruzeiros.
Na sequência dos protestos, muitas reconhecidas figuras públicas, foram os protagonistas de um cordão humano que reuniu mais de 2000 madeirenses contra a intenção da betonização do local. Ao protesto juntou-se uma petição à Assembleia da Republica para alterar a Lei de Meios de modo a evitar que o dinheiro fosse utilizado por Alberto João Jardim para a frente mar do Funchal.
Perante as contestações crescentes, Alberto João, cego, surdo e mudo, garantiu a "grite quem gritar" que faria as obras mesmo contra os que “bafiam na idiotice da Pontinha”.
Mal acostumado a ser contrariado, e em sequência das duras críticas, o PSD-Madeira expulsa o seu militante Henrique Costa Neves, vereador do Ambiente na Câmara Municipal do Funchal, mas esqueceu-se de expulsar o presidente da Autarquia Miguel Albuquerque. Costa Neves era o elo mais fraco e foi um sério aviso para o Miguel se calar!
Livre dos empecilhos, e sem perder muito tempo, o Governo Regional entregou o projeto do CAIS 8 à mesma equipa de projetistas da Marina do Lugar de Baixo (não, não é para rir! ... como assim os dados do ondógrafo do Funchal parece que serve para todas as Marinas). E uns meses depois, por 17.8 milhões de euros, a obra do CAIS 8 foi adjudicada ao consórcio Somague/Etermar.
Diz quem sabe que os resultados dos testes hidrodinâmicos do modelo e da simulação da acostagem de navios efetuados pelos projetistas já indiciavam problemas complexos, principalmente com a vaga de sudeste e sudoeste, mas que isso parece que passou despercebido aos técnicos do Governo Regional que analisaram o projeto.
Mas se houve negligência técnica, o pior veio depois.
Segundo o projeto, o novo CAIS 8, com 330 metros de comprimento e 22 metros de largura iria permitir a atracação de navios de cruzeiros até 275m mas tudo correu mal.
Em 2015, e para a história, fica o facto de Cavaco Silva na sua última visita a Madeira ter ficado estupefacto pela Fragata Bartolomeu Dias, com mar calmo, ter-se recusado atracar no CAIS 8.
E como um mal nunca vem só, a partir daí, foram um somar de inúmeras recusas dos Navios de Cruzeiros em atracar no CAIS 8, que além de ser demasiado curto para os grandes navios, não garantia a segurança e integridade dos navios.
Se isto tudo não bastasse, e em termos simplistas, o CAIS 8 não absorve a energia das ondas e limita-se a refleti-las para a Pontinha, causando, entre outros fenómenos dinâmicos graves, o assoreamento constante do Porto.
Resumindo, o CAIS 8 é mais um Elefante Branco, resultado da incúria e da teimosia de 43 anos de poder absoluto, a arder dinheiro e a comprometer com despesas futuras permanentes do erário público regional no desassoreamento da foz das 3 ribeiras.
Muitos já perguntam se a extensão da Pontinha não vai resultar na quebra da hidrodinâmica, ondas e correntes, para criar um poço de inertes para os senhores do betão facturarem.
Muitos já perguntam se a extensão da Pontinha não vai resultar na quebra da hidrodinâmica, ondas e correntes, para criar um poço de inertes para os senhores do betão facturarem.
Sejamos inteligentes para não escorregar outra vez porque há lodo no CAIS 8.
“Dominámos outrora o mar físico, criando a civilização universal; dominemos agora o mar psíquico, a emoção, a mãe temperamento, criando a civilização intelectual”
Fernando Pessoa