Como é fim de semana, peço que me permitam fazer uma espécie de devaneio sobre o ferry. Aviso já que vou divagar por alguns assuntos mas é propositado e penso que no fim serei convergente. Este artigo é dedicado a todos aqueles que são jovens, principalmente para aqueles que são jovens de espírito.
O vídeo cujo link partilho abaixo surgiu à minha frente por sugestão do YouTube. Como a imagem que serve de amostra ao vídeo chamou-me à atenção, resolvi abrir. O vídeo tem 23 minutos mas que me pareceram apenas 3 minutos. Este mostra um resumo de um festival que eu não tinha ideia que existisse. Aliás, não fazia ideia que existissem produções desta magnitude e qualidade. Longe deste artigo ter como objectivo publicitar esse ou qualquer outro festival, o meu objectivo é mostrar aquilo que eu tenho vindo a tentar mostrar para algumas pessoas: há muito mais mundo lá fora. Diversidade de culturas, de competências, de opções, de possibilidades, de vida. O mundo não acaba no mar que rodeia a Madeira e o Porto Santo!
O vídeo faz um resumo da edição de 2019 de um festival musical realizado na Bélgica (no fim do texto) que junta literalmente pessoas de todo o mundo. Sim, até de Portugal, de onde é possível ver por mais do que uma vez a bandeira portuguesa hasteada com orgulho no meio da multidão. Este agrupamento de povos só é possível graças aos meios de transporte modernos. São estes meios que aproximam pessoas, povos e culturas. São estes meios que promovem o progresso e a tolerância, Porque o isolamento trás desconhecimento, medo, preconceito e uma miríade de sentimentos e atitudes reptilianas. A título de exemplo, sabem qual foi o principal motivo que levou à criação da União Europeia? Precisamente juntar os diferentes povos da Europa, as diferentes culturas, promover a tolerância pelas diferenças nos modos de pensar, de ser e de fazer as coisas...para que situações como a Segunda Guerra Mundial não voltem a acontecer. Mesmo com altos e baixos, penso que será unânime dizer que essa estratégia tem resultado, tanto que em 2020 o conceito da União Europeia fará 70 anos. E além da paz, o que ganhamos com o aproximar dos povos da Europa? Será que alguém consegue quantificar o quanto a Europa evoluiu desde a criação da União Europeia? Desde que houve a abertura de fronteiras, de mercados, da criação da moeda única, da convergência de conceitos, de regulamentos, etc? É este o poder da união dos povos, mas que só é possível quando há real contacto entre estes. E isto só é possível por intermédio de meios de transporte que permitam o aproximar de pessoas e bens de forma rápida, cómoda, eficiente e económica. Nenhum país da União Europeia está isolado dos outros.
Se no continente europeu esta questão é importante, será ainda mais premente para quem vive num território naturalmente isolado: as ilhas. Para estas basicamente existem dois meios de transporte possíveis: os aéreos e os náuticos. Na Madeira infelizmente temos transportes aéreos caros e temos a via marítima refém de más políticas e de proteccionismo económico. Precisamos portanto de mais e melhores meios de transportes porque são estes que permitem o contacto entre pessoas, entre povos, entre culturas. São estes meios que permitem as trocas comerciais, a abertura e desenvolvimento de mercados, o desenvolvimento da economia. Alguém conhece algum mercado internacional importante que seja isolado? China, Estados Unidos, Índia, Alemanha, Reino Unido, etc, todos têm algo em comum: eficientes e económicos meios de transporte entre eles. São as trocas comerciais que promovem o crescimento da economia. Percebem então o porquê do ferry ser tão importante para a Madeira? Porque mais do que ser um meio de transporte de pessoas e de seus veículos particulares em viagens, permite o transporte de mercadorias de forma rápida, eficiente e económica.
E do que precisamos para obtermos essa que já é conhecida como a autoestrada marítima entre a Madeira e a Europa? Precisamos de melhores políticos. Novos, mais jovens, com novas ideias, que não estejam pré-formatados para seguir formas arcaicas de pensar e fazer as coisas. Precisamos de novos políticos que não estejam reféns dos esquemas já instalados. Muitos jovens pensam que a política não é com eles mas estão redondamente enganados. A política diz respeito a todos. Desde aquele que ainda está no ventre da mãe até aquele que está a celebrar os seus últimos dias de vida. Porque são as decisões políticas que decidem o quê e como as coisas serão feitas. São as decisões políticas que irão reflectir na qualidade de vida dos povos. É preciso haver uma nova consciencialização disto, um novo e sério movimento participativo dos cidadãos. É preciso que cada um de nós passe a interessar-se nem que seja um pouco pela política. É preciso que cada um de nós passe a mensagem da importância da política na sociedade àqueles que acham que a política não é com eles. É preciso que sejamos mais reivindicativos porque merecemos. A população da Madeira e Porto Santo não é diferente de outras consideradas economicamente mais evoluídas. Todos temos dois braços, duas pernas e uma cabeça para pensar. O dia tem a mesma duração cá ou lá. O que falta por cá é abrir a mente, expandi-la e acreditar que sim, é possível termos muito daquilo que os outros têm, mesmo eventualmente tendo um mercado menor. Basta haver políticas condignas que promovam a economia, a indústria, o comércio, a exportação.
Em Portugal também são realizados festivais temáticos como este. Ter visto este vídeo relembrou-me que podemos expandir, desenvolver uma sociedade mais evoluída, mais justa, mais inclusiva. Poderá ser sintomático mas depois de ter visto este vídeo, fui ver o telejornal da RTP-M (edição de 26/11/2019). Neste, algumas das notícias em destaque foram: 27,8% da população da Madeira vive em risco de pobreza; A Madeira regista uma taxa de abandono escolar precoce de 17,3%, considerando os dados dos últimos 3 anos.
A Madeira com aquela taxa de risco de pobreza fica com o segundo maior valor do país, abaixo apenas dos Açores. Quanto à taxa de abandono escolar precoce, o valor no país foi de 11,8%. A taxa de conclusão do ensino secundário na Madeira foi de 71,2% enquanto que no país foi de 80,3%. Estes dados deixam-me a pensar se estas situações não serão derivadas de algo que tanto a Madeira como os Açores têm em comum: o isolamento geográfico e consequente falta de diversidade e oportunidades de vivências.
Texto, título e link do vídeo enviados pelo autor Marco Andrade. Ilustrações CM.