A circunstância em que ocorreu a morte do ator José Lopes é uma mensagem de Natal. O frenesim das compras, para quem está bem da vida, e alguns cumprimentos cínicos de pró-forma, ocupam muita gente por estes dias. O Natal está a perder significado. Qualquer dia estão aí as Missas do Parto e alguns que não vão à Igreja todo o ano aparecem no adro para cantar e beber uns copos. A sociedade está embriagada no possuir e gozar a vida ignorando os outros.
O exemplo do ator, que surpreendeu muita gente, diz bem sobre a quantidade de pobreza envergonhada que aí anda a sofrer pela calada mas a ver tudo. O homem morreu cedo, com certeza não se podia cuidar. A mensagem da situação do ator José Lopes é de que a sociedade está cega e carece de abrir os olhos para a verdadeira solidariedade, todo o ano e não só no Natal. Agora, por pena, andam a fazer uma recolha de donativos para proceder ao enterro. Onde andaram os amigos e o Estado durante todo este tempo? Eu imagino o que não anda nesta Madeira com a falta de oportunidades para todos.
O que vão dizer no enterro do ator? É melhor ficarem calados, todos falharam.
Aos 61 anos, este andarilho da cultura foi encontrado morto na tenda onde dormia (desde que a segurança social lhe cortara o rendimento mínimo), nos arrabaldes de Sintra, junto a uma estação de comboios... Não se sabe a hora nem o dia em que tal facto aconteceu. Dizem que morreu de causa desconhecida..."
Morreu sozinho numa tenda onde vivia, sem meios dignos para se sustentar"
Temos que ser corajosos para ser artista nesta merda a que chamamos país e ainda manda o politicamente correcto que nele haja orgulho"
A vida proporcionou-lhe aplausos nos palcos de Teatro, nas salas de Cinema, nos convívios culturais, mas também se atravessou com muitos espinhos: um divórcio muito complicado, uma precariedade que afeta os verdadeiros artistas que não se vendem por "dá cá aquela palha", um desemprego de longa duração, o fado português de o mérito artístico não ser reconhecido, a doença e a pobreza extrema"O que eu precisava de ouvir hoje é que a Segurança Social da Madeira protege uma série de magnatas da ilha que têm dívidas para com aquela instituição, ver como há abusos para uns, dinheiro para quem não desconta e a miséria para quem merecia outra atenção
Título, texto e recorte enviados pelo autor.