Um antigo colega meu da Universidade dizia-me, em tom de gracejo, que a corrupção é o verdadeiro motor da economia de Portugal, e na verdade, as últimas notícias só vêm confirmar a sua tese.
Corromper ou ser corrompido é uma arte que, embora se esteja a generalizar, exige alguma imaginação e métodos cada vez mais sofisticados, que muitas vezes ultrapassam a imaginação do cidadão comum.
Ser corrompido é fácil, mas corromper requer alguma formação, conhecimentos, e tecnologia, como à frente iremos ver.
O método mais antigo é entregar as gorjetas em dinheiro vivo ao familiar do corruptível, ou, em último caso, à amante, correndo o risco de ela se pirar com o dinheiro e com os anéis.
Outro método, um pouco mais refinado, é comprar ao corruptível um bem - móvel ou imóvel - por um valor muito acima do mercado. Ou seja, trocando isto por miúdos, se o corruptível for dono de um bruto apartamento com vista para o mar ou de uma Quinta esplendorosa, o corruptor procede à sua aquisição pagando um preço impensável muito acima do preço de mercado. No limite, os corruptores mais corajosos chegam a comprar até empresas falidas por um preço chorudo e ainda lhe pagam todas as dívidas, aos Credores, ao Fisco e à Segurança Social.
Um outro método, ainda mais sofisticado, e que requer alguma imaginação financeira, é entregar ao corruptível um determinado número de "Ações ao Portador" da sua própria Sociedade Anónima. O ingénuo do corruptível é assim incentivado a contribuir para um negócio do qual se julga acionista. O que o corrompido ignora é que, além dessas Ações muitas vezes não valerem um chavo, já estão também distribuídas por outros corruptíveis - que sem saber uns dos outros - contribuem para o mesmo negócio.
E por último, esqueça a complexidade dos métodos anteriores. A tecnologia do Bitcoin permite hoje corromper e ser corrompido sem muito trabalho e sem riscos. Para quem não sabe, os Bitcoins são uma moeda digital virtual que é identificada por um endereço único e secreto. Esse código anónimo permite transferir dinheiro real entre contas, no maior sigilo, longe da alçada da Polícia e dos Tribunais.
E se por acaso, você estiver na poncha com amigos, e descobrir na carteira de um conhecido Político, Banqueiro, Juiz, ou Funcionário Público, um cartão de débito da XAPO, desconfie logo!