O Situacionista


Da recente entrevista de Alberto João, na Antena 1, muito se podia dizer, mas basta ouvir um pouco para depreendermos que ali só há mais do mesmo, ou seja, uma estratégia de sobrevivência, em desespero de causa. Em causa própria, nunca por causa dos madeirenses ou portosantenses. O meu colega Eça, já analisou de forma superior nestas páginas.

O que nos faz surpresa é que demonstra nos últimos tempos ser um verdadeiro situacionista de opinião, algo que durante anos criticou nos seus adversários políticos e até companheiros de partido. Alberto João paternalista e guru sabe que está longe de ter o partido na mão e não se mostra rogado com as migalhas dos novos tempos porque nem ele sonha para que lado vai soprar o vento.

Senão vejamos, primeiro exemplo, elogiou Rubina Leal e a sua candidatura para a Câmara Municipal do Funchal, a partir do momento em que o seu filho passou a integrar as listas dessa candidata derrotada. Tendo várias vezes em público a criticado, chegando a colocar no plano da traição a sua opção de apoiar Miguel Albuquerque nas diretas do PSD, que deram vitória ao atual presidente do partido. Tudo isto mudou, pois de forma inteligente e oportuna, Rubina Leal incluiu o filho do líder sombra nas suas listas à CMF, assim a situação mudou e a opinião crítica também. Nunca mais disse nada. 

Segundo exemplo, a sua filha é apeada da posição de chefe de gabinete da Secretaria Regional das Finanças e Administração Pública, com a recente remodelação do governo regional e logo aparece Jorge Carvalho, secretário de Educação, que oportuno consegue proteger a irmã da comadre e ainda inteligente(mente) agradar ao grande líder, tratando da sua nomeação para Técnica Especialista do seu gabinete, onde ganhará milhares de euros por mês. Logo, Alberto João, muda de opinião sobre o atual Secretário de Educação, após este ato de proteção em relação à sua filha. Esquece a afronta e vergonha política quem passou como pedido de demissão deste há uns anos atrás quando era membro do seu governo, traindo-o e confrontando-o.

Tudo se esquece, desde que a situação mude. Em causa própria, um situacionista de opinião. Na tal entrevista o elogio aparece algures. Repare-se que esta secretaria tem o maior espólio de dirigentes, incluindo chefe de gabinete e adjuntos do tempo da governação jardinista. A Renovação aqui foi uma miragem, nos escolhidos e na forma de governar, o cunho salazarento e ditatorial de décadas manteve-se.

Ainda aqui vamos, muitas situações novas aí vêm, o contorcionismo continuará, situação a situação mudará a opinião. É caso para dizer que a ocasião faz ... a opinião. 

Resta a Sérgio Marques fazer algo para que a opinião que recai sobre si mude, não tem que se preocupar muito, já sabe como se faz, era preciso ter algum poder, aí está o problema. A gaiola dourada onde está não ajuda muito.

Sabemos que os laços familiares falam mais alto, mas o que esta elite de pacotilha não sonha é que hoje tudo se sabe. O tempo da obscuridade e do segredo desapareceu, vivemos um tempo onde a privacidade existe, mas a transparência se exige. Bem vindos ao Séc. XXI, a era da informação e do conhecimento, que define cada vez mais o voto e a escolha.

Ah! Se a vossa liberdade zelosamente guardais, como sois usurpadores da liberdade dos mais?
in Passarinho Preso