Soneto do Epitaphio



Quando a vergonha, a ética e os princípios desaparecem pela avidez do poder politico, abre-se um espaço ao aproveitamento despodurado e sem qualquer tipo de reserva. Tudo isto, não se enquadrará na recente integração do novo Diretor Financeiro nos quadros do SESARAM, vindo do Grupo empresarial AFA?

Sabendo todos nós que este grupo tem naturalmente ambições em participar (se já não o faz através da relação com a Vice Presidência) nas grandes obras que estão previstas para a região, onde naturalmente o novo Hospital é a maior ... não é estranho?

Considerar que os outros são incultos, que as fêmeas estão naturalmente à sua mercê, que os outros lhes devem culto à sua imagem, que são intocáveis e acima da lei, são algumas das caraterísticas dos indivíduos com traços sociopatas. Traços que se agudizam quando chegados ao poder. Procuram, sem qualquer tipo de dificuldade, ganhar vantagens estratégicas à custa do trabalho dos outros, utilizam de uma posição politica que, apesar de sufragada pelas urnas, não deve ser legitima para fechar negociatas, ganhar vantagens ou posicionar-se para futuros negócios à custa de informações privilegiadas e mentiras que eliminam, logo à partida, a livre e salutar concorrência. As coincidências não existem, mas as estratégias coexistem. Pensemos, um pouco mais. 

Compreende-se, por exemplo, agora, porque não há pressa em colocar no Orçamento Regional o investimento a realizar com o hospital? Basta colocar rubricas específicas para uns estudos e umas análises especializadas, a realizar entretanto. Pois claro. Senão estão ainda todas as tropas dos grandes grupos empresariais regionais, que ambicionam "meter o dente" no negocio do dito hospital nos diversos postos estratégicos, qual é a pressa? Qual é a pressa? Quando já estiverem todos alinhados, bem posicionados e de posse da informação estratégica com o acesso aos processos de decisão, então aí sim, haverá orçamento lançado e uma corrida desenfreada, antes de 2019. Até lá, teremos na Assembleia Legislativa Regional, na Assembleia da Republica e nas ruas as discussões estéreis e estridentes de elites eleitas, crentes ou dependentes. Muito ruído, muita agitação. 

Neste campo, estamos todos condenados, alguns de nós iremos morrer por inércia e incapacidade de um sistema de Saúde financeiramente falido onde alguns secretários, diretores regionais e amigos que nele gravitam, ainda teimam em sugar até a ultima gota. 

Este Governo Regional perdeu tempo, estoirou várias oportunidades e não realizou as reformas necessárias nas áreas que mais consomem os recursos financeiros. Basta observar onde foram realizadas reformas com vista a diminuir custos e tornar mais eficiente a utilização dos recursos, humanos e não só. Quase não existem. Façam o seguinte exercício, observem os maiores orçamentos e as organizações regionais (Saúde e Educação) e vejam o disparate em benesses e cargos, que sendo invisíveis ao cidadão comum, servem uma elite de beneficiários e os seus séquitos, mantidos nos cargos a exemplo do que já sucedia em governos anteriores há décadas. Grandes negócios não se mudam. Tenta-se passar sem ser visto.

Chegamos a um ponto em que aguardamos todos o próximo passe de mágica, à espera de uma solução. Em relação a mudanças em 2019, também já não há assim tanta esperança, porque muitos desistem e emigram e a maioria "agarrados à maquina", como funcionários públicos ou como subsidiados, estão com medo de perder o pouco que têm, logo "lavam as mãos" e engrossam a abstenção. 

Na melhor hipótese, isto vai "dar o berro". Na verdade, as Finanças, a Educação e a Saúde, à semelhança da Segurança Social deixarão de ser regionalizadas. Depois, outras áreas se seguirão e assim alienou-se um conjunto de oportunidades e uma posição que outras regiões ultraperiféricas já invejaram. Hoje ultrapassaram. 

Pensou-se mal. Renovar na verdade não é mudar. Confirmou-se.

Mas quando ferrugenta enxada edosa, Sepulchro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitaphio mão piedosa: "Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".