Estas ultimas semanas foram profusas em notícias sobre pedofilia. Um cidadão confesso raptou e violou uma criança. Um Padre madeirense foi afastado pela Igreja por suspeita de pedofilia. E como se tudo isto ainda não bastasse, vem agora um Bispo idiota considerar que o aborto é um pecado maior que a violação de crianças.
Antes de continuar, que fique claro que os pedófilos são predadores perigosos capazes do pior, e sou daqueles que defende que os culpados, além da castração química, deviam ser obrigados a engolir o seu próprio pénis como forma de redenção.
E, na sequência dessas noticias, a história que vou contar deve ter uns 10 anos.
Estava eu com o meu filho de 8 anos num Parque Infantil em Santa Cruz. No local havia um escorrega, e o meu filho, que sempre foi um traquina louco, subia as escadas e mandava-se lá de cima de qualquer maneira levando tudo à frente. Saía ao pai, dizia-me sempre a mãe preocupada com os danos.
Estava eu com o meu filho de 8 anos num Parque Infantil em Santa Cruz. No local havia um escorrega, e o meu filho, que sempre foi um traquina louco, subia as escadas e mandava-se lá de cima de qualquer maneira levando tudo à frente. Saía ao pai, dizia-me sempre a mãe preocupada com os danos.
Nesse dia, no meio das diabruras próprias de miúdos, um deles, ao subir as escadas, escorregou, bateu com a cabeça no varão da escada e caiu desamparadamente no chão. Ao ouvir os gritos do miúdo, e como não vi mais ninguém em seu socorro, dirige-me imediatamente para ele, peguei-o ao colo e, com os conhecimentos que tinha de primeiros socorros, verifiquei que foi maior o susto que os danos. Nada partido! Era um simples galo!
E num espaço de 5 minutos, enquanto tentava acalmar o choro compulsivo do miúdo com umas festas na cabeça, fui violentamente abordado pela mãe aflita, que me arrancou bruscamente o miúdo dos braços, e com um ar acusador chamou-me de tarado. Na altura não percebi nada, mas esse dia marcou-me para a vida, e nunca mais me esqueci do ar tresloucado daquela mãe.
Chocado, peguei no meu filho, que também estava perplexo com a situação, e fomos embora do Parque. Mais tarde, já em casa, e mais calmo, percebi a loucura inexplicável da mãe do miúdo. Em 2010 a Televisão inundava-nos com as histórias mais bizarras do Padre Frederico (*), do “Bibi”, da Casa Pia, do Carlos Cruz, e dos miúdos de Câmara de Lobos que eram comidos por estrangeiros. A pedofilia entrou pela casa das pessoas e levou-nos a suspeitar de tudo e de todos.
A pedofilia não é coisa nova. Que me lembre, desde pequeno que a minha mãe me dizia para não falar com estranhos, não aceitar nada de ninguém, e não ir com desconhecidos, porque - dizia ela - há senhores maus que querem fazer mal a crianças. Ela nunca me disse que mal era.
A verdade é que durante muitos anos a pedofilia foi ignorada pela lei e pelos políticos, e até arrisco dizer, que era até tolerada por alguns regimes, e veja-se até que antigamente era até considerado normal os mais velhos dum colégio enrabarem os mais novos. Chocados com as palavras? A verdade choca!
Felizmente os Media e a Internet vieram expor os criminosos e dar coragem aos que sofreram o inimaginável. Mas a surpresa, que ninguém esperava, é que os casos descobertos fossem em tão grande numero e, ainda por cima, em instituições que deviam venerar a moralidade, a religião, e a decência do ser humano.
E o resultado de todos estes escândalos, é que, a partir daí, aos olhos da sociedade, qualquer adulto que ousar sorrir, chegar perto, ou fazer uma festa na cabeça de qualquer criança, é logo olhado com desconfiança.
Sejamos honestos. O mundo ficou louco e com isso perdemos a ingenuidade, e agora todos, sem excepção, somos suspeitos, sempre que uma criança estiver por perto.
"O que torna a ingenuidade tão graciosa é que ela não foi feita para durar"
Eduardo Costa
(*) As penas de prisão superiores a 10 anos prescrevem 20 anos após o trânsito em julgado da sentença, assim sendo, o Padre Frederico é agora um homem livre e pode regressar a Portugal.