Reposição de salários não é dívida, é mudar de paradigma

Como poderão facilmente identificar, na imagem estão o Presidente do Governo de camisa branca e calças cinzentas, o chefe de gabinete com camisa branca e calças de ganga (alguém sabe se está de mocassins ou botas de água?), mais à esquerda o guarda-livros com camisa branca e calças de ganga mais escuras. Atrás de calças rosa, que até se muda de lado se for preciso, está o bobo da corte que vai ficar com as culpas depois da fase Costa. Amealhe para os tribunais.
Foto do JM do Presidente do Governo. Amplie.

Quando se pede a reposição dos salários dos funcionários salta logo como tampão a dívida. Uma falácia, se não, vejamos.

Quando os políticos andam nas suas negociatas com as obras, quando deixam passar uma concessão macabra por longos anos e alguns com lata ainda aparecem empregados nas empresas beneficiárias, não temos governantes tão cientes das dívidas.

Quando se fizeram PPPs, atentados ao orçamento, ou quando se vai empregando inúteis para criar uma matilha fiel para atacar e mentalizar o povo multiplica-se a fórmula, os governantes não pensam na dívida.

Os Governantes estão muito cientes de tudo o que alimente os argumentos que lhes são convenientes. O Governo dá um dia de férias a mais para contentar e alegrar os pobrezinhos. Mas, em contraponto, que dizer dos 62 dias de férias de uma Assembleia Legislativa Regional que nada produz a não ser o amém dos desvarios do Governo. Esses que numa semana de trabalho vão 3 dias ou de manhã ou à tarde para passarem o tempo a nos encher de tretas.

Quando vejo uma classe profissional a exigir que lhe seja reposto o vencimento, depois dos cortes lhes terem dado cabo da vida, vejo justiça e ela não paga a vida destruída, ela só permitiria viver com o consentâneo do previsto pela força do trabalho e não da dívida.

Quando vejo a exigência da reposição dos vencimentos, lembro que no passado falaram de uma fase de emergência e vejo também que com a folga dos ordenados cortados as engenharias financeiras voltam a se aproveitar do trabalhador para prosseguir as políticas para amigos, lóbis, mais concessões, enriquecimento ilícito e preparação de emprego futuro.

Quando justamente os profissionais das mais diversas áreas do Estado pedem que o Governo cumpra com a palavra e reponha vencimentos, vejo que se pressiona para mudar o paradigma. Vejo que pedem não só o seu mas que os Governos comecem a governar para o povo. Pedem para que troquem as prioridades em satisfazer os amigos e que se dediquem a quem vota, ao bem estar colectivo do país e não só daqueles que usam o poder para os verdadeiros roubos ao estado que aniquilam o nosso futuro colectivo.

Quando vejo comentadores a replicar as lógicas da dívida sem tocar no paradigma, vejo novos agentes que não percebem que não estão a mudar nada e a cair no argumento fácil que vai perpetuar este estado de coisas.

Quando vejo classes profissionais que invejam a luta dos outros e não aderem para adicionar uma pressão colectiva, e tenhamos um estado a servir o povo, sei que aqueles contra quem muito vociferam, em indignações paralelas, por promiscuidade, enriquecimento ilícito, tráfico de influências, negócios com margens, concessões pornográficas, adjudicações a empresas a que pertencem directa ou camufladamente e toda uma sorte de chulice está a vencer.

Pedir reposição de ordenados é sem dúvida solicitar a reposição do que é seu que unilateralmente foi levado mas, sobretudo, o povo a pedir a devolução da sua vida e que os governantes mudem, que substituam os governos corruptos pelos governos do bem estar. O dinheiro chega, está é pessimamente mal distribuído, acredito que satisfazer quem trabalha é bem mais económico do que satisfazer negociatas, o fosso de pobres e ricos bem o dizem.

Não tenho dúvidas, trazendo o assunto à Madeira, de que fizemos uma dívida colossal com obras e não saímos do registo, os governantes em cada mandato só pensam em si e não na Madeira ou na Autonomia. Ninguém pensa em fazer menos obra para ter dinheiro e repor salários. Só temos gente que acha que chegou à sua vez de mamar e que depois quem vier atrás que feche a porta ou  que faça o mesmo.

Em abono da verdade, este texto é uma vergonha para quem não tem nada, não consegue emprego, não têm rendimentos, não têm perspectivas de vida, não se consegue mexer na economia porque se tramaram na crise. Vamos falar deles para provar que reclamar vencimentos também serve para mudar o paradigma e aniquilar de vez a chulice à sombra do erário público?

Estamos a fazer nova dívida a uma velocidade inacreditável e ainda lhe vão levar mais vencimento, é só acabar a "festa" dos milhões.
A arbitragem - que até aqui, neste período de crise comercial, tem servido apenas para decidir reduções de salário, servirá um dia quando a prosperidade renascer, para decidir os aumentos de salário. O meio legal de que se têm utilizado os patrões - para fazer baixar os salários - será um dia o mesmo de que se servirão os operários para os fazer subir."
Eça de Queirós