As duas faces da justiça



Enviado por Denúncia Anónima 
Domingo, 1 de Julho de 2018 09:02
Texto, título e imagem enviado pelo autor.

No outro dia fui jantar a um conhecido restaurante madeirense com a família, e quando tudo parecia ser um jantar caro mas de digestão fácil eis que fui incomodado pela galhofa de duas corriqueiras figuras do jet-set madeirense.

A minha mulher, visivelmente incomodada pelas gargalhadas dos fanfarrões, virou-se para mim e perguntou – Esses dois não deviam estar presos?

Sorri e respondi que sim, se a justiça fosse divina mas como vivemos num Estado de Direito, a Lei dos Homens é feita para proteger os criminosos até que a culpa transite em julgado.

Um dos gabarolas era um empresário famoso a quem a justiça já condenou a prisão efetiva mas que contínua inexplicavelmente na rua a fazer vidinha de rico, e o outro, um reles bancário arrogante e asqueroso, que há um ano atrás estava em prisão domiciliária no âmbito de uma das maiores investigações em curso no nosso País, e que hoje estava ali a jantar na maior descontração disfarçando a incomoda pulseira eletrónica.

Realce-se que todos temos o direito à presunção de inocência, até que se prove em Tribunal a culpa do crime, mas se um deles tem esse direito, o outro nem por isso.

E de repente dei por mim a questionar se a Justiça funciona mesmo? E se afinal é tudo folclore para o povo ver? Se afinal andamos todos nós, os cidadãos, a polícia, os juízes, os advogados e os arguidos a brincar às leis. Então o Tribunal condenou, esgotaram-se todos os recursos, e não se executa a pena?

Nos últimos meses assistimos a uma Justiça célere a condenar assassinos à prisão máxima, mas depois assistimos a cenas caricatas destas, ou seja, parece que há uma justiça para ricos e outra para pobres.

Que fique claro que os processos são incomparáveis, e que nenhum deles é acusado de matar alguém, mas é revoltante ver pessoas, que não têm um pingo de vergonha na cara, e que usam o dinheiro que roubaram para pagar a grandes escritórios de advogados hábeis em prolongar os processos até à exaustão. Ou muito me engano, ou nestes casos a culpa vai morrer solteira.

E a conclusão que se chega é que estamos num país livre e democrático em que quem rouba chocolates num supermercado para comer é um criminoso, e quem rouba milhões é um herói.

Acabei de jantar, e pedi apenas café. Tinha pressa em sair dali, nem que fosse por causa do cheiro nauseabundo que os dois energúmenos exalavam.