Vamos findar os governos dos lóbis




Neste último mês e meio temos a percepção de que a oposição nunca se organizou para ser Governo e que tem andado entre amigos e compinchas a lutar lugar por um Grupo Parlamentar sem grandes exigências ou responsabilidade. Isto é particularmente grave depois de décadas de governação do PSD-M o ter deixado delapidado na confiança do povo enquanto solução governativa.

Jardim fartou com os seus exageros e a dívida escondida, veio Albuquerque e não mudou nada, depois de décadas tivemos um ciclo de anos onde era evidente que o PSD-M não "ia para novo" com uma alternância cada vez mais plausível. Por aqui sabemos que o PS tem vocação para poder mas não para governar. Ou seja, desejam mas não estão a altura.

Paulo Cafôfo deu um tiro de partida muito cedo, para se dar a conhecer ao eleitorado, sobretudo no que pensa e como vai governar. Os Estados Gerais, mais do que uma abertura à sociedade civil, foi um recrutar de gente sem vocação para governar em favor do povo mas sim de participar enquanto peões do poder económico no coração de uma futura governação.

PS e Cafôfo defraudam por nesta altura se entregarem ao poder económico para que estes colmatem os quadros inexistentes, em quantidade e variedade de valências, para governar. Esta gente não fez o trabalho de casa, foi ao pronto-a-vestir. Um político é muito diferente de um tecnocrata. São, na Renovação, alicerces do desastre. É só olhar para o Eduardo Jesus e seus resultados. Acabou como menino de coro na assembleia.

Com esta insuficiência, sobretudo desconhecimento sobre onde ir buscar quadros políticos e não lobistas, que Cafôfo e o PS têm vindo a cometer erros dos quais ainda não tomaram consciência das repercussões.

O candidato "independente" com apoio do PS, pelo simples acto de copiar a solução da Renovação, ou seja, apoiar-se em lóbis, deu claras indicações de que não é o Messias pretendido pelo povo, um déjà-vu de Albuquerque 2015.

A principal esperança que esteve a ser "alimentada" faz parte de uma task-force lobista que pretende controlar todos os partidos por forma a que, independentemente do resultado das eleições, saberem que podem compor uma solução que lhes mantenham os privilégios.
Pretendem controlar todas as opções políticas para preservar o acesso privilegiado ao erário público do qual dependem e que mantêm as suas empresas e impérios. O lóbis querem comprar todos e a maior parte deixa. Permitem jogos de dependências que depois serão cobrados.

As próximas eleições Regionais são, como todas, importantes. Determinam quem nos vai governar em proximidade. Depois de muitos anos de "jantares de borla" vimos a factura, passamos por uma era onde os políticos esgotados da sua capacidade de argumentar e convencer os eleitores, fizeram obras para enriquecer alguns e alimentar as campanhas com inaugurações. Descobrimos que nos sacaram o voto com inaugurações que nos iam falir com uma dívida colossal e escondida. Até onde chegou o delírio de ganhar a todo custo!? Para quem assistiu a isto e às mentiras de Albuquerque para chegar ao poder, só pode estar avisado para a presença de lóbis em quase todas as soluções partidárias.

Temos lóbis a ordenar despesas a governantes que depois inviabilizam os serviços básicos como a saúde. Executados por um vice todo poderoso para isso. Os governantes, por dependência, favor e vassalagem, primeiro satisfazem os lóbis para então pensarem nos eleitores que os elegeram ... se é que pensam.

É preciso muita atenção nas próximas eleições para quebrarmos este ciclo. Se o conseguirmos haverá mais atenção para o povo porque em vez se sustentarmos impérios, monopólios e empresas privadas estaremos a ter condições nas escolas, na saúde, nos rendimentos, etc. A verdadeira economia funcionaria. Votemos para obter bem estar pela governação dos eleitos.

Albuquerque e Cafôfo estão na rota errada mas há mais, é isso que temos que descobrir. Acabemos com a capitulação da democracia como se de um concurso público se tratasse com 5 candidatos do mesmo lóbi.

Política de Interesse
Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. 
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. 
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. 
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade. 

Eça de Queiroz, in Distrito de Évora (1867)

É preciso coragem para sair da cepa torta!