Corriam os anos do PREC e os Jeeps da Policia do Exército, fortemente armados, comandados de Lisboa pelo COPCON de Otelo, faziam rondas intimidatórias pela cidade mostrando a força de um País que não queira ser dividido. Felizmente as rondas dos militares acabavam quase sempre em bebedeiras e em Casas de Meninas na rua de Santa Maria. Na mesma altura, na escuridão da noite, um carro de um “retornado” da EEM percorria as ruelas esquivando-se às rondas. Lá dentro iam os cabecilhas da FLAMA.
Muita gente não sabe, mas no início, haviam dois grupos independentistas, nas primeiras reuniões no tal clube maçon, havia muita gente presente conotada com o Partido Socialista, que era o partido que mais frente fazia à hegemonia comunista de Lisboa. Com o tempo e aos poucos o medo do papão comunista desvaneceu-se e o grupo inicial desagregou-se
Lembremo-nos que os jovens de então ainda não tinham internet nem Coca-Cola, e, influenciados apenas pelas crenças dos pais, dedicavam-se à política que nessa altura estava na moda. E foi assim que no centro do pátio do Liceu Jaime Moniz apareceu misteriosamente uma bandeira azul e amarela onde miúdos armados em skinheadssaudavam diariamente a pintura frugalmente apagada pelo Diretor do Liceu de então. E do laboratório de Química do Liceu atirava-se para o pátio os panfletos independentistas que provocavam furor nuns e contestação nos mais comedidos. E na Conde de Carvalhal, onde morava a elite burguesa da Madeira, os miúdos queques simulavam um acidente de viação, que incluía molho de tomate a fingir de sangue, para que as fotografias das bandeiras pintadas nas paredes aparecessem nas máquinas fotográficas dos tais jornalistas comunistas quando relatassem o acidente nos jornais.
Entretanto, com a linha dura e extremista do movimento independentista, apareceram as bombas. Estouraram com o carro do professor de desenho, incendiaram carros, rebentaram aviões. E mataram.
No meio de tanta loucura, a Líbia de Kadhafi veio dar o seu apoio à independência da Madeira, e os Estados Unidos de Kissinger puxaram o tapete, provocando o desconforto e o descrédito dos líderes.
O tempo da revolução passou, e hoje, esses miúdos imberbes do Liceu, são pais de família, e alguns já dedicam o seu tempo a mimar os netos traquinas, e, no seu íntimo, já não acreditam que os comunistas são uns monstros que comem crianças ao pequeno-almoço.
E o que ficou disto tudo?
O resultado da luta armada de então é que hoje a Madeira, deve mais de seis mil milhões de euros. Está perante uma grave crise social nos braços. Tem obras megalómanas inúteis. O Porto mais caro do mundo. E agora não tem dinheiro nem para um novo Hospital nem para medicamentos.
E perante tudo isto, os ânimos estão outra vez inflamados mas o problema é que já ninguém acredita que agora a culpa é de Lisboa. A culpa, caros patriotas, é dos mesmos que durante anos nos fizeram acreditar numa Madeira livre, independente, e próspera. Estão a chamar aos outros o que são sempre no papel dos bons da fita.
O João morreu e nunca mais fará anos!(*)
(*) "O João faz anos" era o código usado pela FLAMA quando estava em curso um atentado.
Muita gente não sabe, mas no início, haviam dois grupos independentistas, nas primeiras reuniões no tal clube maçon, havia muita gente presente conotada com o Partido Socialista, que era o partido que mais frente fazia à hegemonia comunista de Lisboa. Com o tempo e aos poucos o medo do papão comunista desvaneceu-se e o grupo inicial desagregou-se
Lembremo-nos que os jovens de então ainda não tinham internet nem Coca-Cola, e, influenciados apenas pelas crenças dos pais, dedicavam-se à política que nessa altura estava na moda. E foi assim que no centro do pátio do Liceu Jaime Moniz apareceu misteriosamente uma bandeira azul e amarela onde miúdos armados em skinheadssaudavam diariamente a pintura frugalmente apagada pelo Diretor do Liceu de então. E do laboratório de Química do Liceu atirava-se para o pátio os panfletos independentistas que provocavam furor nuns e contestação nos mais comedidos. E na Conde de Carvalhal, onde morava a elite burguesa da Madeira, os miúdos queques simulavam um acidente de viação, que incluía molho de tomate a fingir de sangue, para que as fotografias das bandeiras pintadas nas paredes aparecessem nas máquinas fotográficas dos tais jornalistas comunistas quando relatassem o acidente nos jornais.
Entretanto, com a linha dura e extremista do movimento independentista, apareceram as bombas. Estouraram com o carro do professor de desenho, incendiaram carros, rebentaram aviões. E mataram.
No meio de tanta loucura, a Líbia de Kadhafi veio dar o seu apoio à independência da Madeira, e os Estados Unidos de Kissinger puxaram o tapete, provocando o desconforto e o descrédito dos líderes.
O tempo da revolução passou, e hoje, esses miúdos imberbes do Liceu, são pais de família, e alguns já dedicam o seu tempo a mimar os netos traquinas, e, no seu íntimo, já não acreditam que os comunistas são uns monstros que comem crianças ao pequeno-almoço.
E o que ficou disto tudo?
O resultado da luta armada de então é que hoje a Madeira, deve mais de seis mil milhões de euros. Está perante uma grave crise social nos braços. Tem obras megalómanas inúteis. O Porto mais caro do mundo. E agora não tem dinheiro nem para um novo Hospital nem para medicamentos.
E perante tudo isto, os ânimos estão outra vez inflamados mas o problema é que já ninguém acredita que agora a culpa é de Lisboa. A culpa, caros patriotas, é dos mesmos que durante anos nos fizeram acreditar numa Madeira livre, independente, e próspera. Estão a chamar aos outros o que são sempre no papel dos bons da fita.
O João morreu e nunca mais fará anos!(*)
(*) "O João faz anos" era o código usado pela FLAMA quando estava em curso um atentado.