Tempo ou qualidade na saúde?



De preferência os dois – ter um atendimento para a saúde de qualidade e em tempo recorde.

Tratar da saúde não é martelar números e indicadores. A nova ferramenta de informação do Serviço de Urgência em tempo real avalia o tempo que medeia para o atendimento e estabeleceu tempos máximos de atendimento. Tenta provar que o sistema de urgência é de qualidade com base no tempo de atendimento.

Monitorizei o sistema montado no dia 15 de março. Detetei que sempre que o tempo de espera máximo definido nos casos urgentes estava próximo a ser atingido, os utentes eram “despachados”.

É impressionante o sistema de alerta que devem ter montado no sistema informático. Querem convencer aqui a malta que nos tratam com rapidez. Mas, ainda não perceberam que queremos rapidez porque o tempo no tratamento de algumas situações críticas é crucial, mas na verdade o que queremos é que curem as mazelas?

Atender uma pessoa em tempo recorde e mandá-la para casa com uma simples receita de anti-inflamatório e antiobiótico que teima em não resultar é um bom atendimento? É esta a qualidade de saúde que desejamos?

Também reparei que nos casos muito urgentes cujo tempo de espera deveria ser de 10 minutos, por vezes, demoravam um pouco mais. Situação que compreendo porque mais do que estarem no computador a registar o caso, espera-se que a equipa médica esteja a tratar do utente e antes de fazer seja o que for faça uma boa avaliação da situação.

A saúde é algo demasiado importante para se deixar brincar. O tempo de atendimento não pode ser mais importante do que realizar um atendimento com qualidade. Não podemos deixar a saúde ficar dependente do acaso e da sorte.

A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos bons e maus, encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de frente com coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há-de vir, que a gente há-de ter um dia em que há-de poder dormir, e não ouvir, não ver, não compreender nada.”