Há dias publicaram os jornais madeirenses que a Câmara Municipal do Funchal irá abrir vagas para mais de 200 colaboradores/funcionários. Cantoneiros, consultores jurídicos, gestores de recursos humanos, economistas, motoristas, bombeiros, jardineiros, veterinários, arquitetos, psicólogos, engenheiros, professores de educação física, geógrafos, pedreiros, pintores, canalizadores, etc., etc.
Do elenco de categorias de que a CMF está necessitada não consta, para azar, nenhum especialista em História! E que falta faz um técnico que percebesse de forma algo mais apurada da história da cidade do Funchal e alertasse a comissão municipal de toponímia, se é que existe e/ou funciona, ou quem trate dos assuntos da denominação das artérias da cidade, para não meterem o pé na poça.
Sabe-se que a superintendência do edifício da Sé do Funchal é da Diocese, enquanto local de culto, ou do Governo, regional ou nacional, enquanto monumento nacional, e por isso ambos deveriam estar mais atentos ao que é afixado nas paredes de tão vetusto edifício.
Estamos em crer que no caso do Funchal, a toponímia está cometida ao município e por isso deve haver alguma atenção em relação às placas que denominam as ruas da cidade.
Troquemos isto por miúdos. No alçado lateral da Sé virado para a rua do Aljube está afixada uma placa que denomina o larguinho ali existente (das floristas e da esplanada da Penha d’Águia). A tal placa refere-se ao Largo Gil Eanes.
Poderia muito bem ser o resultado de um largo para homenagear Gil Eanes, o navegador português que dobrou o Cabo Bojador em 1434, no âmbito da epopeia expansionista portuguesa que, entre outras coisas, trouxe a gesta lusitana até ao arquipélago da Madeira há 600 anos.
Mas atente-se na placa. Este Gil Eanes é apresentado como “Mestre da Sé (Séc. XVII)”. Ora, com base na historiografia da Madeira, um dos Mestres da Sé, os “pedreiros/arquitetos”, foi Gil Enes. Assim está em muitos livros de História. Tragam à liça o professor Carita, o Emanuel Janes, o Veríssimo, etc., mergulhem no Elucidário, etc.
Na tal capital insular em que nos lançam o desafio de “Fica na Cidade” ficamos e topamos com estas preciosidades toponímicas.
É por demais sabido que o edil-mor funchalense quer dobrar o Bojador das eleições de 2019 e expulsar os gentios e os ímpios do laranjal, mas daí a homenagear Gil Eanes será descaramento a mais!
Vá lá que a distração do “plaqueiro” responsável pela placa da Sé, seja lá quem ele for, foi só por um A a mais na placa, pois caso o dito cujo fosse afetado por lucubrações de fantasmas impertinentes dos tempos idos da Mudança e deixaria cair o apelido do douto navegador ou do eliminado mestre da Sé e o largo se transformasse no Largo Gil Canha, Mestre de Muitas e Variadas Proezas.
Talvez este nosso alerta chame a atenção da Comissão dos 600 Anos e esta providencie a mudança da placa com direito a cerimonial com fanfarra e figurantes quinhentistas sob a batuta do historiador (ou será histórico?) Guilherme Silva, o abade superior da nova ordem seiscentista renovada.
A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos"
Padre António Vieira