Heróis precisam-se!


Há muito tempo que não fumo mas hoje apetece-me um cigarro. Levantei-me, abri a janela da sala, afastei as cortinas e deliciei-me sobre a vista soberba que tenho sobre o Funchal, suspirei, e sem pensar muito, acendi o cigarro que estava a guardar religiosamente para o próximo fim-de-semana.  Maldito vicio!

As primeiras baforadas da nicotina invadiram-me o cérebro e dei comigo a divagar sobre o Sentido da Vida. Com o fumo do tabaco, surgiu-me o desejo secreto de ter uma mascara, uma capa e super poderes para lutar contra todas as injustiças que conheço. No meu íntimo adoraria ser um herói de Banda Desenhada que, com um raio laser, derrubasse todos os criminosos que por aí proliferam.  De volta para a realidade, sorri. A idade não perdoa e sei que já não sirvo para herói.

E por falar em heróis de Banda Desenhada, que é feito dos irreverentes Tó Fontes, da Rubina Sequeira e do Gil Canha? Casaram-se? Apaixonaram-se? Estão a cuidar dos netos? A lavar a loiça do jantar? Ou simplesmente fartaram-se de lutar por gente que não merece o esforço?

E que é feito dos Super Jornalistas rebeldes que denunciavam a agonia da democracia de Alberto João Jardim? Morreram? E de repente, e sem glória, lembrei-me do Tolentino, outro herói, que morreu sem ver a democracia na ilha que tanto amava.

Na verdade Alberto João já desapareceu do mapa da política, e com ele, todos os nossos conhecidos Super Heróis. Será que a política sem o velho jarreta perdeu a piada? Será que o Miguel e os seus sequazes já não valem o esforço?

Agora tudo isto perdeu a piada. Os jornalistas venderam-se. Os advogados venderam-se. Os engenheiros venderam-se. Os médicos venderam-se. Os economistas venderam-se. Os empresários venderam-se. E o povo, os últimos da lista, e os únicos que não se venderam, estão cada vez mais sozinhos e indefesos.

Cada dia que passa, os criminosos, os oportunistas, e os corruptos multiplicam-se a olhos vistos em todos os partidos sem ninguém ousar fazer ou dizer nada. E o mais grave, é que não se vislumbra no horizonte nenhum herói que nos salve e nos traga uma réstia de esperança para uma sociedade mais justa.

Paulo Cafôfo, Rui Barreto, ou Manuel António, serão mesmo os heróis que se seguem, e dos quais se espera muito?

Desanimado, travei a última passa do cigarro já moribundo e regressei ao computador para escrever este texto, pois heróis precisam-se urgentemente!

"Não desfaças o herói que está na tua alma!"

Friedrich Nietzsche