Dez anos sem médico de família



Em Machico, há um número significativo de residentes sem médico de família à mercê de eventuais vagas de recurso, disponibilizadas em número muito limitado por outros clínicos do Centro de Saúde desta cidade. Uma situação que se arrasta há cerca de 10 anos, com constrangimentos sérios para estes utentes, que exigem alternativas consistentes e funcionais às limitações criadas com a transferência da sua médica de família.

No início, os utentes foram consentindo a privação da sua médica com o funcionamento de soluções avulso, presumivelmente, resultantes de uma melhor gestão orgânica do pessoal médico a nível regional ou decorrentes de uma suposta contenção de despesas impostas pela operacionalização do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) da Região. Entretanto, com o passar do tempo e com o avanço natural da idade da maioria destes utentes, o tal consentimento esgotou-se, agastado devido à humilhação dos seus direitos primários à saúde e ao agravamento das suas doenças e de novas situações clínicas que, infelizmente, aparecem sem pena nem agravo. No entanto, nem com o términus do período de ajustamento financeiro, nem com os propagandeados resultados do bom crescimento económico da Região a situação parece eternizar-se sem soluções à vista!

Segundo os desabafos de quem passa por esta situação, são de um clamor legítimo, que roça o desespero e a indignação de quem se sente espoliado dos seus direitos primários a uma qualidade de vida decente e consentânea com os valores maiores da conquista da Autonomia Regional. Defendo que a consagração da nossa Autonomia não pode permitir-se a este estado de coisas, nem consentir o defraudar dos legítimos direitos daqueles que também ajudaram a colorir de vida os socalcos da nossa Ilha e que sentiram na pele os tormentos da repisa da luta sofrida de cada dia. Porém, para estes beneficiários do serviço regional de saúde, o retorno do crescimento económico passa-lhes ao lado, à distância, empurrando-os para as filas das vagas de recurso pelas primeiras horas do sol nascente (06h00), sem a devida garantia da imprescindível triagem clínica, da consulta e dos exames de rotina.

Acredito que esta questão que envolve muitos utentes com pensões de sobrevivência, sem possibilidades de recorrem às clínicas e aos hospitais privados, seja resolvido antes das eleições regionais a ocorrer a 22 de setembro próximo. Ao não ser resolvida, deixa os actuais deputados e os novos candidatos ao parlamento regional por Machico numa posição muito confrangedora e comprometedora com o seu eleitorado, principalmente os de base, os mais necessitados dos nossos serviços de saúde. Neste intento, admito que nem os órgãos autárquicos locais estão dispensados deste desiderato, procurando encontrar as melhores soluções junto do SESARAM, a fim de garantir a estes machiquenses sem médico de família e à população da freguesia em geral a tranquilidade devida no regular funcionamentos dos serviços do Centro de Saúde da sua cidade.

Observatório da Comunicação Social
Carta do Leitor - DN Madeira
31 de Agosto de 2019