Comentário ao artigo de José Prada


O deputado José Prada tem hoje um registo positivo no seu Artigo de Opinião no Diário de Notícias, não sei se este é o verdadeiro José Prada se o outro, se foi ele que escreveu e pesquisou ou se vem escrito por alguém para um frete ao Governo Regional. Vem assinado em seu nome, é um bom registo, por essa razão seguem-se as seguintes observações.

Toda gente só pensa em adicionar mas há adições que resultam em subtrações. Se num bom ambiente meterem um troglodita, a boa gente vai saindo de fininho e ficam só os trogloditas e seus amigos. Não deveria ser assim, as regras deveriam meter na ordem os prevaricadores mas a realidade é outra e diga-se que até no partido do senhor José Prada, nestes últimos anos, a história foi de trogloditas que afastaram a boa gente.

É verdade deputado José Prada o que diz sobre a Ryanair mas pode fazer até pior. Uma Ryanair pode afastar outras companhias mas a alteração de "quem paga" também. Se apostarmos na Ryanair e ficarmos nas mão deles ou no máximo com a TAP é pior do que o estado actual das ligações aéreas. A Ryanair faz política de terra queimada, pouco respeita, nem os funcionários. Se fica só, os destinos que neles apostaram ficam cada vez mais presos à sua fórmula. Porque subsidiar e distorcer o mercado na fórmula da Ryanair é como o PSD a privilegiar os seus empresários que dominam o mercado regional. Um sucesso subsidiado e de negócios agendados onde mais ninguém mete o dente. O caso do ferry é flagrante como ninguém aparece para jogo viciado.

Mas voltando ao texto, está tudo certinho mas não será que José Prada reescreve uma realidade assente num passado errante em que o seu partido desprezou o conhecimento para dar tachos e satisfazer muitos inúteis? Olhe, por exemplo, à sua volta no seu Grupo Parlamentar, hoje vai fazer falta o conhecimento. Os erros cometidos na Governação do PSD Madeira em relação ao Subsídio Social de Mobilidade nunca foram moldados com abordagens pertinentes no plenário da ALR, até ali poderiam ser limados. Compactuaram, o senhor deputado também, participando até na forma arruaceira de querer obter resultados e safar os erros do PSD-M usando muita política com pouco argumento, o destrato é só ruído.

Neste ambiente pergunta-se, não será que José Prada comenta o adversário para afugentar os olhares sobre os erros do PSD-M?

Comenta-se o modelo canário para omitir o regional, que é pior, mas sobretudo demonstra que em todo lado as companhias aéreas aproveitam-se das falhas dos modelos implementados, para ganhar mais dinheiro.

O erro advém das escolhas políticas de gente que não domina o negócio  do transporte aéreo. A política afugenta o conhecimento para que esta não faça sombra a gente escolhida para fazer política e hoje, quando pensam que estão de peito cheio e com toda a razão, são bem capazes de levar baile da TAP na Comissão de Inquérito.

O Presidente da TAP veio hoje para respeitar a convocatória da Assembleia Legislativa Regional com um enorme staff (longe do imaginado vem com artilharia pesada), começo a suspeitar que os políticos capazes de produzir o texto do deputado José Prada vão se ver envolvidos num confronto de política contra conhecimento e acabarão por representar mal os madeirenses. A culpa é outra vez daqueles que não respeitam o mérito. A TAP vem cansada dos insultos, muito para além da muita razão dos madeirenses que são mal representados pelos deputados.



Agora o texto do senhor deputado José Prada:


Canárias sexy e 3.ª companhia La Palisse
JOSÉ PRADA / 02 OUT 2018 / 02:00 H.

Esperava - está bom de ver, ingenuamente - depois dos estados “ditos gerais”, que o PS-M e candidato apresentassem algo inovador, elaborado e consistente quanto à mobilidade aérea.

Pese os prolixos autores e o insuflado impacto mediático, a montanha, desta vez, pariu um par de ideias vazias, óbvias generalidades, banalidades de tertúlia, sem qualquer estudo prévio, que nem resistem a uma análise leiga e apressada do autor destas linhas.

«Instituição de modelo igual ao das Canárias»

É «sexy» dizer-se que se quer aplicar o modelo das Canárias na Madeira. Aquele em que o residente paga, nas viagens para a península, 25% do preço - seja ele qual for - do bilhete.

Por acaso leram sobre o assunto? Encontrei um único artigo científico sobre modelos de subsídio para passageiros/residentes, do Centro de Estudos de Economia Aplicada da Universidade de Canárias.

Artigo que conclui que o modelo «lump sum», em vigor na Madeira, é o aconselhável socialmente (em vez do “ad valorem” das Canárias) quando a proporção de residentes, sobre o total de passageiros na linha, é baixa e a sua propensão para pagar preços mais elevados é diminuta. O que é que cá se verifica? Surpresa para quem não fez trabalho de casa?

E não é o modelo de Canárias mais propenso a fraudes? Lembram-se, há dois anos, que a Air Europa foi condenada por defraudar o Estado espanhol em 30 milhões de euros, por ter obtido subvenções sobre valores acima dos cobrados nos bilhetes aos Canários? A preocupação com o dinheiro dos contribuintes não figura entre as prioridades do PS-M?

Sabem ao menos se os Canários estão satisfeitos? Se estivessem atentos a notícias recentes saberiam que um Ministro do Governo socialista espanhol, ao ser interpelado pelos partidos políticos insulares, sinalizou que estariam dispostos a tornar os voos com a península obrigação de serviço público, estabelecendo preços de referência.

Apesar da bonificação ter passado de 50% para 75% em Julho e de haver meia dúzia de companhias aéreas nas linhas, com o aumento de demanda em 40 %, o Estado espanhol está alarmado pelo facto dos preços ficarem à mercê do abuso das companhias, não se cumprindo o objectivo de ter preços mais baratos para os seus residentes.

«Introdução de uma 3ª companhia na linha»

Mesmo dito em bicos de pés e de peito inchado «quero uma 3ª companhia na linha», é uma lapalissada simplória. Quem é que do lado de cá não quer?!

Dizem que «com grande probabilidade» constará do Orçamento de Estado de 2019. Tinham a obrigação de saber que não se pode subsidiar companhias aéreas via OE, pois a União Europeia proíbe este tipo de auxílios de Estado. Senhores socialistas, recomendo a leitura da comunicação da CE nº 2014/C 99/03 sobre auxílios estatais a companhias áreas.

Pode-se, sim, apoiar novas frequências/rotas através das campanhas em «co-branding». Ações que, sendo lideradas pelas Associações de Promoção, são levadas a cabo com ou sem o apoio do Turismo de Portugal e em estreita coordenação com a ANA, atendendo ao programa de incentivos que esta última entidade executa, visando o crescimento dos seus aeroportos.

O Governo Regional, juntamente com a ANA, há muito que estabelece negociações com várias companhias. Contactos que devem ser sigilosos, precisamente para não enfraquecerem posições, como é fácil de entender.

Num patético frenesim de entrevistas sobre o turismo, o PS Madeira, através do seu candidato, declarou a sua preferência pela Ryanair. Talvez porque um camarada socialista de Lisboa lhe tenha soprado que as negociações com a dita companhia estariam avançadas, quis ser o mensageiro da boa nova para a qual contribuiu zero.

Mandaria o bom senso que ficasse calado. É que poderá ter dificultado ou até gorado as negociações. Não quero crer que o pretendesse, terá sido apenas e só uma tonta (e interesseira) precipitação!

Mais grave é quando pensamos que corrermos o risco de ter, em vez de uma 3ª companhia na linha, a saída da EasyJet, ficando nas mãos da TAP.

Já alguém perguntou à EasyJet o que pensa do modelo de Canárias e porque é que não está lá a operar? Se EasyJet abandonar a Madeira, são 650.000 lugares (mais de 15% do total do Aeroporto da Madeira) que se perdem, incluindo para aeroportos de Inglaterra e Suíça. Pode a Madeira dar-se a esse luxo?

A gestão das rotas para a Madeira é um assunto sensível. Coexistem companhias de bandeira, low cost’s, tour operadores, cada um com seus interesses. É necessário um longo e meticuloso trabalho para que, sem pôr em causa os equilíbrios existentes, se consigam, a prazo, bons e duradouros resultados, nos antípodas deste comportamento de cigarra. É uma gestão com pinças. E mais uma vez, neste caso, o candidato do PS-M parece um atabalhoado elefante numa loja de porcelanas!

Boa sorte mas, estou descrente, precisávamos de outra categoria nos deputados.