Os novos imbecis e o despotismo


Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 29 de Outubro de 2018 10:49
Texto pelo autor. Título e ilustração do CM.

Há uma vaga de imbecis a proliferar nas redes sociais e políticas. Caracterizam-se por acreditar mais no que lêem e no que dizem ter lido que nos seus próprios olhos.

Não se pode dizer que não crêem na sua própria mente pois é preciso ter uma na qual acreditar. A principal ideia veiculada pelos novos imbecis é deve-se acreditar mais nos livros que na natureza humana conhecida.

Ideias-tipo promovidas pelos novos imbecis: 
  • “Num Estado de Direito Democrático, Os únicos que podem interpretar a lei são os advogados e os magistrados”, 
  • “As leis estão a ser estritamente cumpridas”, 
  • “As leis são recomendações. Se for no interesse do Estado, elas podem deixar de ser seguidas”
  • “O Estado Português cumpre integralmente com o princípio da igualdade consagrado na Constituição” 
  • “Não existe corrupção”, 
  • “Se o Estado decidiu foi para bem do povo”, 
  • “O livro X estabeleceu Y, portanto passou-se Y. São imbecis os que acreditam que pode ter se passado outra coisa quem não Y”; 
  • “È muito feio odiar”; 
  • “Aquele prejudicou injustamente muitos de propósito… (mas mais à frente dizem) Jesus Cristo ensinou-nos a perdoar”; 
  • “Só os loucos, em seus devaneios, é que alegam que existe maldade, ou injustiças feitas de propósito para prejudicar os adversários”
  • “Os cidadãos têm demasiados direitos, e ainda por cima ousam solicitar que o Estado cumpra com os seus deveres”
  • “O desgraçado que pede alguma coisa ao Estado é um cancro da Sociedade.”
  • “A desgraça que aconteceu é culpa exclusiva do desgraçado, e cabe a ele solucionar a sua própria desgraça”
  • “Não penses. Não fales.”
Acidentalmente, ou talvez não, os novos imbecis defendem bastante a governação do PSD-M, e insultam quem se lhe opõe.


Associo esta vaga de imbecis à introdução do Despotismo. Descrevo em seguida algumas características do sistema despótico:

“A extrema obediência supõe ignorância naquele que obedece;(…)

A educação, que consiste principalmente em viver com os outros, é pois bastante limitada; reduz-se a introduzir o temor no coração e dar ao espírito o conhecimento de alguns princípios muito simples de religião. O saber será perigoso; (…)

Assim, a educação é ali por assim dizer nula. Precisa-se tirar tudo para dar alguma coisa, e começar por fazer um mau súdito, para fazer um bom escravo.(…)

E seria bastante perigoso ter ali a paixão pelas queixas: ela supõe um desejo ardente de fazer com que a justiça seja feita, um ódio, uma ação no espírito, uma constância em prosseguir. Tudo isto deve ser evitado num governo onde não se deve ter outro sentimento a não ser temor e onde tudo leva, de repente e sem que se possa prever, a revoluções.(…)

Todos devem saber que o magistrado não deve ouvir falar deles e que sua segurança está em sua nulidade.(…)

A conservação do Estado é apenas a conservação do príncipe, ou melhor, do palácio ande ele está trancado. Tudo a que não ameaça diretamente este palácio ou a capital não causa nenhuma impressão em espíritos ignorantes, orgulhosos e preconceituosos; e, quanto ao desenvolvimento dos acontecimentos, eles não conseguem acompanhá-lo, prevê-lo e até pensar nele. (…)

Nos Estados despóticos, não há lei: o juiz é ele mesmo sua própria regra.(…)

Assim como as repúblicas provêem à sua segurança unindo-se, os Estados despóticos fazem-no separando-se e ficando, por assim dizer, sós. Sacrificam uma parte do país, arrasam as fronteiras e tornam-nas desertas; o corpo do império toma-se inacessível. (…)

O Estado despótico conserva-se por um outro tipo de separação, que se faz colocando as províncias distantes nas mãos de um príncipe que seja seu feudatário. O Mogol, a Pérsia, os imperadores da China possuem seus feudatários, e os turcos acharam-se contentes por terem colocado entre seus inimigos e eles os tártaros, os moldávios, os valáquios e, outrora, os transilvanos.”(…)

“Este Estado faz a si mesmo todo o mal que poderia fazer um inimigo cruel, mas um inimigo que não poderia ser detido.”

Montesquieu, Espírito das Leis


P.S.- educação não é formação. Educação é saber viver com os outros. Formação são conhecimentos técnicos sobre objectos, normalmente fornecidos com o intuito de os manipular ou encher a cabeça de conhecimentos vãos… 

A necessidade de conhecimento e de aprendizagem de um individuo são limitadas. Logo, se é obrigado a saber o nome de todas as flores, não tem capacidade nem vontade de saber as políticas que estão a decidir o seu futuro.