Parece que a Mão de Deus colocou o Leslie nos pés de Maradona que fintou muito nestes dias nessa bola de rugby mas que conseguiu enfia-la entre dois postes, com um em São Miguel e outro na Madeira. Lá passou o primeiro furacão de nível 1 a norte da Madeira e não "na" Madeira. Alguns ainda se sentirão defraudados pela falta de espectáculo mas ninguém deseja mais "20 de Fevereiros" por mais que o nosso Presidente do Governo diga coisas tolas como o "estarmos preparados", no mesmo timbre do está controlado. Neste momento podemos dizer que tivemos sorte porque podemos estudar e prever mas nunca evitar um fenómeno meteorológico. É preciso retirar ilações.
Primeiro: o estado do tempo, que pode ter influência negativa sobre os madeirenses, não pode ser um assunto que não se informa para evitar falsos alarmismos. A informação dá-se e são os madeirenses que devem avaliar as suas condições perante as previsões. Nas ditaduras é que se mastiga a informação. Isto tem uma razão de ser, o acompanhamento permite ao cidadão programar e se precaver com trabalhos em casa ou com compras que deve fazer. Isso faz-se com tempo, a par da actividade profissional, para finalmente poder estar em casa na melhor situação possível dentro das contingências de um temporal. Uma situação é ter um sifão ou uma caleira para limpar, outra é cortar uma árvore instável que não resistirá à ameaça anunciada ou uma pequena obra numa folha de zinco mal afixada, etc. A meteorologia acompanha e avisa, o cidadão gere o tempo até ao fenómeno ... mas dêem-lhe tempo. Uma situação é ter a sorte de calhar aos fins de semana, outra será acontecer durante a semana. Vamos começar a pôr a cabeça a funcionar ... e o trânsito na cidade também.
Segundo: o clima está a mudar e ninguém tem dúvidas. O Leslie foi, desde há muito, o primeiro caso de um furacão que não acabou nas Caraíbas ou na Florida e veio para cima de nós. Andou entre tempestade tropical e furacão de força 1, tivemos a sorte de que passe mais a norte. De ora avante podemos não ter a mesma sorte e é necessário estar preparado. Ao contrário do que o senhor Presidente do Governo Regional diz, não estamos preparados para furacões, ninguém está, nem os Estados Unidos que estão calejados neste aspecto. É uma força indomável da natureza que nos vai apanhar mal acostumados. A Protecção Civil deve estudar de forma séria os impactos de um furacão sobre a nossa realidade porque a população não está acostumada e tem hábitos a corrigir, com tempo. Não queremos heróico-políticos de fachada a debitar asneiras, nem sabem o que é um furacão.
Terceiro: com um aeroporto sempre a dar chatices ainda não temos um plano de contingência, como é que estamos preparados para um furacão? Por outro lado, qual a acção possível num fenómeno como o 20 de fevereiro? É evidente que cada um estará por sua conta nos momentos mais agudos e é para eles que se deve estar preparado, sem menorizações, falta de acompanhamentos ou frases políticas. Ainda nem temos um sistema eficaz de avisos para estes e outros fenómenos.
As despensas devem ter uma margem de segurança acima do que é comum e rodar as validade, mantendo as quantidades e variedades de acordo com o consumo da casa.
Cada território tem as suas fragilidades, se a Madeira não é plana e limita em muito as áreas propícias a inundações, por outro lado o vento pode ser "padrasto". Convém começar a ler as experiências dos outros nesta matéria até porque, neste momento em que vivemos o Leslie e suspiramos de alívio, o Nadine existe e a seguir as mesmas pegadas do Leslie. As condições são as mesmas com uma corrente de água quente que está a vir para Este e a tempestade, se não encontra o fluxo de ar habitual que empurra para os EUA (isso também está a mudar), seguirá a corrente de água quente que o alimenta em direcção aos Açores, Madeira ou Canárias.
Vamos ler a realidade dos outros e aprender, comparar conforme os casos: Como sobreviver a um furacão (link)
Dominámos outrora o mar físico, criando a civilização universal; dominemos agora o mar psíquico, a emoção, a mãe temperamento, criando a civilização intelectual."
Fernando Pessoa