A Golpada das Análises Clínicas




No mesmo dia em que o PSD de Rui Abreu acusou o Partido Socialista e a irreverente Sofia Canha de brincarem com a saúde dos Madeirenses é publicada, como quem não quer a coisa, uma notícia no Diário informando que as Análises Clinicas no Publico vão passar a ter de ser marcadas com antecedência.

O azar dos azares é que nesse mesmo dia calhou-me a rifa de estar a fazer as minhas análises de rotina, não para despistar vestígios de Tetraidrocanabinol (THC), mas porque com o avançar da idade a maldita próstata começa a se julgar importante.

Como pago mensalmente do meu ordenado centenas de euros ao Serviço Regional de Saúde, e julgo que ainda tenho o direito de usufruir de um serviço que ainda é gratuito, levantei-me cedo, dei uma mijinha para um frasquinho, e cheguei às 8H15 ao Bom Jesus.

Tirei a senha, e em 30 minutos já estava a tomar o pequeno-almoço, e veja-se que, quando saí o número de utentes já ia no número 80, ou seja, pela primeira vez um serviço publico que funciona e bem.

E foi no café, a meio de um croissant cheio de colesterol, que li a notícia do Diário e confesso que fiquei perplexo com a justificação atabalhoada da psicóloga de serviço do SESARAM de que era necessário gerir os poucos recursos e pardais aos ninhos que se faz tarde.

O difícil de engolir na história, para um laico como eu, é que se a tecnologia evoluiu tanto que o meu Médico já me marca as Análises e Receitas num computador ligado em rede, e que  já nem preciso de papeis para fazer análises ou aviar uma receita em qualquer farmácia, porque é que agora tenho de me dirigir pessoalmente ao serviço para marcar com antecedência em nome duma alegada gestão de recursos humanos. Voltamos à idade da pedra?

Senão vejamos. Se é para gerir recursos, porque é que no mesmo computador, em que o médico marca as análises, não é possível combinar com o utente uma data para as análises e reservá-la? É informaticamente uma coisa de outro mundo? Ou não interessa esta funcionalidade?

Ou muito me engano, ou o que vai acontecer é que os utentes que não conseguirem marcar análises em tempo útil, e porque todos temos medo de morrer, vão ser obrigados a ir aos privados e pagar do seu bolso em nome duma gestão de recursos públicos muito mal explicada.

Andamos a brincar? Senão conseguimos gerir recursos engonha-se os utentes?

Ou tudo isto é uma golpada? Já não nos chegava o Cartel do Betão, o dos Portos, agora temos o da Saúde?


Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto a evitar no futuro as causas da doença; em caso contrário, abstém-te de o ajudar.

Sócrates