Cartas de Fora


Fui ontem com a família ver o filme madeirense “Cartas de Fora” de Luís Jardim que, diga-se, surpreendeu-me no bom sentido. Pela positiva a grande prestação de João Jardim, que já nos acostumou a grandes filmes, e de Manuel António que foi igual a si próprio, mas do qual se espera ainda muito mais. Pela negativa realça-se Rocha da Silva e Humberto Vasconcelos que decididamente não têm jeito nenhum para atores. 

Acima de tudo gostei de ver o conhecido manipulador João Jardim tristemente acamado no papel de Joaquim, um rocheiro "entravado" que trabalhou como escravo na construção das levadas da madeira. “Cartas de Fora” é um filme que retrata a pobreza extrema e a exploração dos madeirenses, ou seja, nada muito longe da realidade das histórias do povo superior a que Jardim nos habituou. 

O argumento é excelente, e com o decorrer do filme, dei comigo a pensar, como é que o ator João Jardim tem a lata de representar uma realidade que lhe passou ao lado durante os 39 anos de domínio PSD? Decididamente João jardim merece um Óscar pelo papel da sua vida. 

O que mais me surpreendeu é que o filme é a antítese de tudo o que na vida real a personagem de João Jardim defendeu na sua vida política. Decididamente Luís Jardim escolheu-o propositadamente a dedo para um papel que lhe encaixou na perfeição. 

O filme é divertido e provocou o riso na audiência que se reviu nas personagens e nos termos madeirenses utilizados, e só pecou por não ter ido mais longe. Fica o desafio!

À parte da intriga do filme, e para que conste, o ator João Jardim já fez saber que vai-se levantar da cama para assistir na primeira fila da sessão de abertura da Assembleia Regional à derrota na estreia de Paulo Cafôfo. A vingança e a mesquinhez de Jardim no seu melhor. 

Mas se Deus escreve certo por linhas tortas, esperemos que Jardim daqui a quatro anos não esteja acamado, e possamos ir os dois  assistir à tomada de posse de Cafôfo como presidente do novo governo da madeira. 

E voltando ao filme.  Foi bom ver à saída do cinema, as pessoas afirmarem satisfeitas que foram uns sete euros bem empregues. 

Parabéns ao Luís Jardim pela coragem.

“Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha.”

Nicolau Maquiavel