O canto do cisne


Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 04 de Julho de 2019 23:36
Texto enviado pelo autor. Título e ilustração CM

Pensei muito antes de escrever este texto, mas depois de ouvir o discurso final do Dr. Miguel Albuquerque não consegui deixar de expressar a minha opinião no que concerne a vida política da RAM. Foi um discurso normal de final de legislatura, onde o presidente se auto congratula por tudo o que fez durante 4 anos e agradece os seus secretários pelo “excelente” trabalho neste quadriénio. Contudo o que mais me chamou à atenção foi o facto de que, quando era para dizer que na Madeira a saúde, a educação, as finanças, entre outros sectores, estavam melhor que nas outras regiões, falava em Portugal, mas quando referia que não tinham feito mais devido ao governo central, dizia Continente porque afinal fazemos parte da continuidade territorial. Como docente, fico atónito com este tipo de discurso, porque sinto que em vez de pertencermos a uma aldeia global, ficamos cada vez mais fechados na nossa “Pérola do Atlântico”, a pensar não existe nada melhor que a nossa terra. Este é um discurso demasiado bairrista que nos impede de julgar tanto positiva com negativamente tudo o que nos rodeia. Enumero algumas situações que me fazem pensar como estamos a construir o futuro da Região:

Durante 4 anos pouco vimos fazer em relação à educação, mas em apenas 2 meses antes das eleições regionais, o secretário que tutela este sector diz que no 5º ano deixarão de haver manuais físicos para serem substituídos por e-manuais. Será que não seria melhor modernizar as escolas antes de implementar esta medida? Já pensou que os nossos alunos de 9/10 anos não terão maturidade suficiente para utilizar o tablet para fins pedagógicos, quando no seu quotidiano este gadget serve para fins lúdicos?

No sector da saúde, há muitos aspetos positivos. Embora haja listas de espera, essas são menos morosas do que no Continente, em algumas especialidades. Mas se Governo Regional diz que fez o melhor que pode em 4 anos, como é que o Secretário Regional diz que na próxima legislatura tentará acabar com as mesmas? Haverá menos pacientes na Madeira?

Quanto ao trabalho, é com imensa pena que vejo excelentes alunos, mas que não pertencem à Jota, dizerem que vão ficar no Continente ou em outros países a trabalhar, porque sabem que na nossa região não é pelo mérito que conseguem ter emprego, mas através do “ Sr. Cunha” ou através de familiares bem posicionados na sociedade madeirense.

Nunca tantas inaugurações tiveram lugar como neste último mês, até dois WC / chuveiros para os surfistas, tiveram lugar na primeira página dos jornais. Seja qual for o resultado das próximas eleições regionais, espero que os próximos governantes reflictam melhor sobre que tipo de discurso irão ter para que as gerações vindouras se tornem cidadãos do mundo e não se tornem em homens e mulheres que pensam que todo o mal que acontece na Madeira é sempre culpa dos outros e nunca daqueles que nos governam.