Haja Vergonha!


Nos anos 60 o semanário Comércio do Funchal e o jornal Voz da Madeira foram os grandes impulsionadores da discussão autonómica da Madeira, e em consequência disso, foram sucessivamente alvos prediletos da  Censura do regime ditatorial português. 

Foram uns longos dez anos de reivindicações que culminaram com a entrega ao então Governador Civil do Funchal de um documento reivindicativo escrito por um grupo que seria depois a CEDM - Comissão Eleitoral Democrática da Madeira. 

Dez anos mais tarde, em janeiro de 1974, um jovem jornalista de nome Alberto e sobrinho de Agostinho Cardoso defendia no jornal Voz da Madeira uma Autonomia seletiva para a Madeira. Sorte ou premonição, três meses depois, a 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos terminou com cinquenta anos de ditadura e iniciou um novo ciclo democrático para Portugal. 

Com a democracia veio a tão desejada Autonomia  que foi logo assombrada pela existência da figura do Ministro da República cuja justificação seria a de representar a eterna soberania de Portugal nas ilhas. 

Obviamente o cargo de Ministro da República nunca caiu bem nos autonomistas, e depois de uma serie de reivindicações foi finalmente extinto pela 6ª revisão constitucional, sendo substituído pela figura do Representante da República.

Aos Representantes da Republica portuguesa cabiam as funções de exercer direito de veto sobre a legislação regional, suscitar inconstitucionalidades, suspender ou dissolver o Governo da Região democraticamente eleito. 

Historicamente, o cargo de Ministro da Republica foi assumido pelo General Lino Miguel, depois pelo Almirante Artur Rodrigues Consolado, e finalmente pelos Juízes Conselheiros Monteiro Diniz e Ireneu Barreto que foi o primeiro madeirense no cargo de Representante da Republica. 

Embora tenha o maior respeito pelo Sr. Juiz Conselheiro Ireneu Barreto, como madeirense nunca concordei que fosse outro madeirense a representar a soberania da república portuguesa na Região Autónoma da Madeira. 

Mas mais difícil mesmo para um madeirense,  é admitir que o próximo Representante da Republica seja um militante de um partido  que sempre defendeu a extinção do cargo. Haja vergonha! 

Num Portugal moderno espera-se que os  Representantes da Republica sigam o mesmo caminho dos Governadores Civis. 

Somos portugueses ilhéus, e não precisamos que ninguém nos lembre isso.


“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras” 

Friedrich Nietzsche