Mitigação a quanto obrigas!


Todos sabemos que o maior incompetente é aquele que se convence que sabe tudo. E isto a propósito da resposta da Secretaria Regional dos Equipamentos e Infraestruturas à noticia do Diário, na qual se afirma que “uma das medidas estruturais de mitigação do risco de aluviões, definidas no estudo de avaliação do risco de aluviões” é “a conservação, limpeza, desobstrução e desassoreamento das bacias hidrográficas”.

Se não fosse dramático até dava vontade de rir, pois parece que a palavra “mitigar” pegou de galho e ficou de moda. E como a palavra “mitigar” não é conhecida da maioria das pessoas, fui ao dicionário e descobri que “mitigar” significa “tornar ou ficar mais suave ou menos intenso, geralmente o que é mau de sofrer”. Mau de sofrer? Deve ser por isso que ultimamente “mitigar” aparece em tudo o que é congressos e conferências dos mesmos cientistas de sempre que parece que andam a brincar com coisas sérias.

E como em todos os comunicados  da SREI à imprensa é sempre referido o tal estudo de avaliação de riscos de aluviões, conhecido como EARAM I e II, venho em primeiro lugar perguntar se o Sr. Secretário Regional leu sequer os documentos que suportam o tal estudo. Se não, leia! Se sim, volte a ler!

Se leu, deve ter se apercebido que além de tudo ser muito genérico, falta ainda qualquer coisa prometida pela equipa de génios que fez o estudo e que ainda não foi entregue. Deixo aqui o desafio para o Sr. Secretário descobrir o que falta entregar. E já agora, eles já receberam o pilim todo?

Se leu, deve ter reparado, que as tais medidas estruturais não passam de intenções, isto é, nem eles sabem muito bem como enfrentar fenómenos conhecidos internacionalmente como “Debris Flow”. 

Resumindo, limpar é uma solução, mas também pode ser um grande problema. Até quem só teve física de 12º ano percebe, se não houver atrito em hidráulica, as velocidades e consequentemente os caudais podem tomar dimensões descontroláveis e provocar danos imprevisíveis e incalculáveis.

E para que saiba não existe modelo matemático para descrever o fenómeno por isso é extremamente perigoso andar a inventar soluções empíricas, que é o que a sua Secretaria anda a fazer de ânimo leve desde o 20 de fevereiro de 2010.

Sr. Secretário aconselho-o vivamente a solicitar um outro estudo de uma outra entidade externa, que não seja dos mesmos autores dos dois primeiros. Na ciência, na medicina e na política é sempre bom ouvir uma segunda opinião.

Sua Excelência até pode perceber muito de estruturas, cimento C25, ferro, blocos de alvenaria e de obras, mas de ribeiras, hidráulica e hidrologia fluvial é decididamente um zero e corre o sério risco de meter água!

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 23 de Fevereiro 2020 10:29
Texto e título enviados pelo autor. Ilustração CM.