Carta Aberta à Secretaria Regional de Mar e Pescas

Foto retirada do DN-Madeira
Caro senhor Secretário Regional do Mar e das Pescas, se esta carta fosse escrita há 1 ano atrás provavelmente estava com medo de escrever. Porventura o medo de não ser ouvido ter-me-ia assustado. Não teria coragem de dirigir ao Senhor Secretário a Palavra, mas, a verdade é que a abertura em escutar armadores e pescadores, também, a mudança que ocorreu, leva-me a perder parte desse medo.

Sou pescador há mais de 50 anos. A minha vida foi passada dentro de um barco de pesca, onde aprendi tudo o que sei com o meu pai que me levou para esta vida, mais por necessidade do que por vontade sua. Durante estes anos vi a nossa pequena frota de pesca crescer e diminuir como se duma maré se tratasse. Vi barcos a serem chacinados pelos fundos europeus como se de uma erva daninha se tratasse. Vi os jovens e menos jovens a saírem da sua terra para procurar uma vida melhor nas frotas estrangeiras, espalhando-se pelo mundo e deixado as suas famílias com o coração na boca. E, é, principalmente, por estes dois motivos que escrevo estas palavras: somos pequenos em dimensão, mas somos enormes em espírito e coração. Podemos vencer e ter uma frota de pesca competitiva como outrora.

Mas para isso precisamos mais do que palavras. Precisamos de ações para conseguirmos ser competitivos. Basta olhar para os nossos vizinhos espanhóis para vermos o quão atrasados estamos. Algumas coisas foram feitas e melhoradas, sim, mas muito longe do necessário para que possamos ser competitivos. Um bom exemplo dessa competitividade é a Dourada da Madeira, Senhor Secretário, aclamam que chega aos supermercados do continente em 24 Horas. Porque não fazer o mesmo com o atum?

A época do atum traduz-se na mais importante e mais valiosa temporada de pesca. Inicia-se já este mês de Março. As frotas preparam os barcos, são pintados e revistos, vão para a água e os homens prontos dão os últimos retoques. E as lotas e entrepostos frigoríficos ficam na mesma, como se nada fosse. De que nos serve ter lotas novas e entrepostos frigoríficos, se não existe pessoal para descarregar, pesar e pessoal para assegurar a rotatividade de turnos? Para não termos de esperar horas e dias para descarregar o nosso pescado. Precisamos de operacionais que colaborem connosco de forma rápida e eficiente. Vi com agrado o anúncio da entrada de novos funcionários, mas onde estão eles? Vão começar quando a época do atum estiver em andamento? Sem estarem preparados e treinados. Não acha que deveríamos incorporar os mesmos antes para serem de facto uma mais-valia para a época. Só assim seremos competitivos! Temos uma lota de grandes dimensões a ser construída no centro do Funchal, enquanto, a do Caniçal está mais perto do aeroporto, da zona industrial, com acessos mais fluidos. Contudo esta última já se encontra estrangulada e a necessitar de um aumento para ser competitiva e dar resposta com mais eficácia às necessidades dos pescadores. Temos varadouros parados com problemas técnicos, que nos impedem de fazer os trabalhos necessários nas embarcações.

Senhor Secretário, sei que a culpa destes problemas não é sua, mas como herdeiro destas dificuldades, o problema agora é seu e nosso que vivemos esta realidade! Queremos mais do que palavras! Queremos resultados práticos! Queremos ações no terreno! Queremos condições para sermos competitivos! Só assim a nossa frota irá crescer e se tornará forte e competitiva por si mesma. Gerando mais postos de trabalho, tanto diretos como indiretos. Levando a que os nossos jovens e menos jovens consigam aqui mesmo na nossa ilha fazer futuro e dar as suas famílias uma vida digna. Acabo apenas pedindo que nos ajude a potencializar a nossa indústria.

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Quarta-feira, 26 de Fevereiro 2020 11:30
Texto e título do autor. Ilustração e pequenas correcções de português CM.