A maioria da população não consegue explicar a razão das vitórias eleitorais do PSD-M pois todos sabem que esses indivíduos governam para benefício próprio. Há teorias para todos os gostos: Síndrome de Estocolmo, Perseguição Política aos Opositores, Compra de Votos, a Oposição vendeu-se e não quer governar, Resistance is futile: Maquiavelismo para a destruição da alma e vontade individual (mas isso significaria que os líderes laranja têm alguma capacidade intelectual), etc…
A Rebelião das Massas
Massa é "o homem médio". Deste modo se converte o que era meramente quantidade - a multidão - numa determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o mostrengo social, é o homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo genérico.”
“Massa é todo aquele que não se valoriza a si mesmo - no bem ou no mal - por razões especiais, mas que se sente "como todo o mundo", e, entretanto, não se angustia, sente-se à vontade ao sentir-se idêntico aos demais.”
E é indubitável que a divisão mais radical que cabe fazer na humanidade, é esta em duas classes de criaturas: as que exigem muito de si e acumulam sobre si mesmas dificuldades e deveres [as almas “nobres”], e as que não exigem de si nada especial, mas que para elas viver é ser em cada instante o que já são, sem esforço de perfeição em si mesmas, boias que vão à deriva.” [as massas]
O característico do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem o denodo de afirmar o direito de vulgaridade e o impõe por toda a parte. Como se diz na América do Norte: ser diferente é indecente. A massa atropela tudo que é diferente, egrégio, individual, qualificado e seleto. Quem não seja como todo o mundo, quem não pense como todo o mundo, corre o risco de ser eliminado.”
A massa - quem o diria ao ver seu aspecto compacto e multitudinário? - não deseja a convivência com o que não é ela. Odeia de morte o que não é ela.”
Se se observa a vida pública dos países onde o triunfo das massas avançou mais - são os países mediterrâneos -, surpreende notar que neles se vive politicamente ao dia. O fenômeno é sobremaneira estranho. O Poder público acha-se em mãos de um representante de massas. Estas são tão poderosas, que aniquilaram toda possível oposição. São donas do Poder público em forma tão incontrastável e superlativa, que seria difícil encontrar na história situações de governo tão prepotentes como estas. E, entretanto, o Poder público, o Governo, vive ao dia; não se apresenta como um porvir franco, não significa um anúncio claro de futuro, não aparece como começo de algo cujo desenvolvimento ou evolução seja imaginável. Em suma, vive sem programa de vida, sem projeto. Não sabe aonde vai porque, a rigor, não vai, não tem caminho prefixado, trajetória antecipada. Quando esse poder público tenta justificar-se, não alude para nada ao futuro, senão, pelo contrário, fecha-se no presente e diz com perfeita sinceridade: "Sou um modo anormal de governo que é imposto pelas circunstâncias". Quer dizer, pela urgência do presente, não por cálculos do futuro. Daí que sua atuação se reduza a evitar o conflito de cada hora; não a resolvê-lo, mas a escapar dele imediatamente, empregando os meios que sejam, ainda à custa de acumular com seu emprego maiores conflitos sobre a hora próxima. Assim tem sido sempre o Poder público quando o exerceram diretamente as massas: onipotente e efêmero. O homem-massa é o homem cuja vida carece de projeto e caminha ao acaso. Por isso não constrói nada, ainda que suas possibilidades, seus poderes, sejam enormes.”
(…), a massa crê que tem direito a impor e dar vigor de lei a seus tópicos de café.”
(…): vivemos em um tempo que se sente fabulosamente capaz para realizar, mas que não sabe o que realizar. Domina todas as coisas, mas não é dono de si mesmo. Sente-se perdido em sua própria abundância. Com mais meios, mais saber, mais técnicas que nunca, o mundo atual vai como o mais infeliz que tenha havido: puramente ao acaso.
Porque, com efeito, o homem vulgar, ao encontrar-se com esse mundo técnica e socialmente tão perfeito, crê que o produziu a natureza, e não pensa nunca nos esforços geniais de indivíduos excelentes que supõe sua criação. Menos ainda admitirá a ideia de que todas estas facilidades continuam apoiando-se em certas difíceis virtudes dos homens, dos quais o menor malogro volatilizaria rapidissimamente a magnífica construção.”
Isto nos leva a apontar no diagrama psicológico do homem-massa atual dois primeiros traços: a livre expansão de seus desejos vitais, portanto, de sua pessoa, e a radical ingratidão a tudo quanto tornou possível a facilidade de sua existência. Um e outro traço compõem a conhecida psicologia da criança mimada.”
À força de evitar-lhe toda pressão em redor, todo choque com outros seres, chega a crer efetivamente que só ele existe, e se acostuma a não contar com os demais, sobretudo a não contar com ninguém como superior a ele.”
Estas massas mimadas são suficientemente pouco inteligentes para crer que essa organização material e social, posta a sua disposição como o ar, é de sua própria origem, já que tampouco falha, ao que parece, e é quase tão perfeita como a natural.”
Assim se explica e define o absurdo estado de ânimo que essas massas revelam: não lhes preocupa mais que seu bem-estar e ao mesmo tempo são insolidárias das causas desse bem-estar. Como não vêem nas vantagens da civilização um invento e construção prodigiosos, que só com grandes esforços e cautelas se pode sustentar, crêem que seu papel se reduz a exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos nativos.”
(…)a voz novíssima grita: "Viver é não encontrar limitação alguma; portanto, abandonar-se tranquilamente a si mesmo. Praticamente nada é impossível, nada é perigoso e, em princípio, ninguém é superior a ninguém".”
Desta sorte, encontramo-nos com uma massa mais forte que a de nenhuma época, mas, a diferença da tradicional, hermética em si mesma, incapaz de atender a nada nem a ninguém, acreditando que se basta - em suma: indócil.”
A atividade política, que é de toda a vida pública a mais eficiente e mais visível, é, contrariamente, a derradeira, resultante de outras mais íntimas e impalpáveis. Assim, a indocilidade política não seria grave se não proviesse de uma mais profunda e decisiva indocilidade intelectual e moral.”
A pessoa [da massa] encontra-se com um repertório de ideias dentro de si. Decide contentar-se com elas e considerar-se intelectualmente completa. Não sentindo nada de menos fora de si, instala-se definitivamente naquele repertório. Eis aí o mecanismo da obliteração.”
O homem-massa sente-se perfeito. Um homem de seleção, para sentir-se perfeito, necessita ser especialmente vaidoso, e a crença na sua perfeição não está consubstancialmente unida a ele, não é ingênua, mas chega-lhe de sua vaidade e ainda para ele mesmo tem um caráter fictício, imaginário e problemático. Por isso o vaidoso necessita dos demais, busca neles a confirmação da ideia que quer ter de si mesmo.”
Não se trata de que o homem-massa seja tolo. Pelo contrário, o atual é mais esperto, tem mais capacidade intelectiva que o de nenhuma outra época. Mas essa capacidade não lhe serve de nada; a rigor, a vaga sensação de possuí-la apenas lhe serve para fechar-se mais em si mesmo e não usá-la. De uma vez para sempre consagra o sortimento de tópicos, prejuízos, ou, simplesmente, vocábulos ocos que o acaso amontoou no seu interior, e com uma audácia que só se explica pela ingenuidade, impô-los-á por toda a parte.”
(…), o homem médio tem as "ideias" mais taxativas sobre quanto acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu o uso da audição. Para que ouvir, se já tem dentro de si o que necessita? Já não é época de ouvir, mas, pelo contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão de vida pública em que não intervenha, cego e surdo como é, impondo suas "opiniões".”
O homem-massa não atende a razões e só aprende em sua própria carne.”
Na política regional podemos ver as consequências das características das massas:
- Devido aos elevados conhecimentos técnicos, pensam que sabem tudo. Por isso deixam de ouvir e ler. Ninguém ficará surpreendido se ler que o “planeta Terra é plano” e a esmagadora maioria saberá que deve ficar calada pois sabe que não vale a pena tentar corrigir.
- Por outro lado, as massas ostracizam quem pensa de maneira diferente.
- As massas pensam que o Estado de Direito Democrático não precisa de ser defendido.
- O individualismo e a falta de moral faz com que sejam admissíveis todo o tipo de crimes (algo só é crime desde que seja uma violência inadmissível à Sociedade)
- Pensam que são perfeitos, pelo que não admitem que alguma vez erraram. Uma vez que um dia votaram PSD-M, têm que sempre votar PSD, para não demonstrarem “imperfeição”.
Do que li de Ortega y Gasset só faço uma crítica negativa: não percebeu que as características das massas iriam descambar numa corrupção desenfreada, e num imenso medo de perda de independência (i.e., a sua fonte de rendimentos), que por sua vez favorece a corrupção.