Covid-19: Não facilites. Não cries habituação. Não entres na soberba.



Covid-19: O caso da ilha japonesa de Hokkaido, que há um mês voltou à rua e agora teve de voltar para casa

Na primeira vaga de contaminações, Hokkaido foi um exemplo de sucesso devido à sua rápida ação de contenção. Agora, passado um mês, o país volta a declarar o estado de emergência e enfrenta uma nova etapa da pandemia
Ailha de Hokkaido declarou, no final do mês de fevereiro, o primeiro estado de emergência devido ao coronavírus. Assim como em vários países, as escolas foram encerradas, as autoridades pediram à população para ficar em casa, enquanto o governo e os profissionais de saúde tentavam identificar os casos positivos e tratá-los.
Esta estratégia de isolamento social levou a que em meados do mês de março o número de novos casos descesse para os mínimos, um ou dois casos por dia. Assim, no dia 19, o estado de emergência foi suspenso: as pessoas puderam voltar a sair de suas casas e no início de abril as escolas foram reabertas.
Passado um mês, a situação de Hokkaido alterou-se: surgiram novos casos de contaminação, e o segundo estado de emergência nacional foi decretado na passada quinta-feira, dia 16 de abril. Durante a semana passada, Hokkaido registou 135 novos casos de Covid-19 e não há indícios de que o vírus tenha sido contraído fora do Japão, ao contrário do que aconteceu na primeira vaga. Todos os casos registados são de japoneses e nenhum destes viajou recentemente para o estrangeiro.
Na primeira vaga, a rápida resposta de Hokkaido veio comprovar que é possível controlar o vírus se forem tomadas as medidas adequadas quando surgem os primeiros casos. “É relativamente fácil lidar com os aglomerados, entrar em contacto com pessoas que têm sintomas e isolá-las”, declarou o professor Kenji Shibuya, do King’s College, em Londres, segundo a BBC. “As autoridades foram eficazes no controlo dos aglomerados de pessoas. O Japão estava na fase inicial do surto, naquela época. O vírus estava localizado e Hokkaido foi uma história de sucesso”. Mas nesta segunda vaga, as novas dificuldades surgem e é necessário uma nova forma de intervir.
Muitos países estão a concentrar os seus esforços em testar o máximo possível, tentando identificar todos os casos de coronavírus. O Japão, pelo contrário, apenas tem testado uma pequena percentagem dos seus habitantes. Numa primeira fase, o governo declarou que testar em grande escala era um “desperdício de recursos”, contudo o seu discurso tem vindo a alterar-se e está a começar a acelerar este processo. O Ministério da Saúde confirma que os hospitais do país estão sobrecarregados com o atendimento de pacientes com Covid-19. A solução deve passar por efetuar os testes nos centros de saúde locais mas estes não preparados para dar resposta aos programas de identificação de pacientes com Covid-19 em grande escala.
Para Shibuya, as autoridades japonesas não têm uma ideia clara de como o vírus se propaga pela população. “Estamos no meio de uma fase explosiva do surto”, diz. “A principal lição a aprender com Hokkaido é que, mesmo que tenham sucesso na contenção pela primeira vez, é difícil isolar e manter a contenção durante um longo período de tempo. A menos que se alargue a capacidade de testar, é difícil identificar a transmissão comunitária e a transmissão hospitalar”.
Hokkaido teve que voltar a impor as restrições, sustentando a ideia de que esta “nova realidade” vai durar muito mais tempo do que a maioria dos habitantes espera. Contudo, as medidas japonesas são mais flexíveis do que em outros países do mundo: a maioria das pessoas continua trabalhar, as escolas estão fechadas, mas lojas e alguns bares permanecem abertos. Shibuya assume que, com estas medidas, o Japão tem poucas hipóteses de controlar a chamada “segunda onda” de infeções que está a surgir, não só em Hokkaido, mas em todo o país. O professor afirma ainda que os japoneses devem ter regras mais apertadas. “A principal lição”, declara “é que, mesmo que consigam uma contenção local, mas haja uma transmissão em diversas partes do país, enquanto as pessoas estiverem em movimento, é difícil manter o país livre do vírus”.
A economia de Hokkaido já está a ressentir-se dos efeitos das medidas preventivas. A ilha é extremamente dependente do turismo, e o Japão proibiu as viagens oriundas dos Estados Unidos, da Europa e da maior parte dos países da Ásia. Vários restaurante e bares foram obrigados a despedir os empregados. Na cidade de Asahikawa, Naoki Tamura confessa à BBC que apesar de manter o bar em funcionamento, não existem clientes para atender. “Uma ou duas pessoas passam por aqui”, confirma. “Costumava haver muitos turistas da China e do sudeste da Ásia. Eles desapareceram completamente. Agora não ouvimos nenhuma língua estrangeira na rua. Os locais de alojamento mais pequenos estão a fechar. As empresas de turismo estão realmente a lutar para sobreviver”.
O segundo estado de emergência deve terminar oficialmente no dia 6 de maio, último feriado da “Golden Week” do Japão – quatro feriados nacionais no final do mês de abril e início de maio, quando se comemoram o aniversário do imperador Showa, o dia da constituição, o dia verde e o dia das crianças. À BBC, um funcionário do governo de Hokkaido, que trabalha na área das epidemias, confirma que é fundamental manter as medidas. “Sentimos que temos que continuar a fazer a mesma coisa”. “O objetivo é minimizar o contacto entre as pessoas para impedir a propagação do vírus”, declara afirmando que as medidas devem permanecer até encontrarem uma resposta à pandemia. “Temos que continuar a tentar travar a expansão”.
Atenção ao ponto fraco da Madeira neste exemplo do Japão:
"O Japão, pelo contrário, apenas tem testado uma pequena percentagem dos seus habitantes."